sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Mar de soja de um lado, de outro também

"Sim, eu gosto mesmo é de escrever sobre agricultura. De andar horas e horas por estradas de chão, aperta mãos sujas de graxa ou de terra, de conversar olhando nos olhos e fazer minha anotações com uma cuia de mate na mão esquerda.

Mate bom, aliás, é a especialidade dos Perciak".

Para a safra 2009/2010 opção é pela soja

Com rentabilidade no último ciclo, área plantada com leguminosa cresce

Gracieli Polak
CANOINHAS

Com o tempo bom e grande parte das sementes já no solo, a paisagem começa a mudar no campo. Aos poucos a safra 2009/2010 começa a ser “vista” no interior da região, mas refletindo o que acontece no restante das regiões produtivas do País, o predomínio, neste ciclo, será da soja. Mais de 22 milhões de hectares serão cultivados com a leguminosa que, com previsão climática boa para os próximos três meses, deverá superar recorde e atingir produtividade superior a 63 milhões de toneladas, quase a metade da produção total de grãos brasileira, estimada em 139 milhões de toneladas até o fim do ciclo, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Na região, a julgar pelo comportamento dos agricultores, a situação se repete. Na manhã de quarta-feira, 11, os irmãos Sinésio, Luís César e Vitalino Perciak, da localidade do Salto d’Água Verde, faziam reparos nos maquinários enquanto a umidade trazida pela chuva do dia anterior não permitia o plantio de mais uma área. Para eles, segundo Sinésio, a alternativa é uma só: a soja.
Com a oleaginosa os irmãos pretendem ocupar cerca de 50 hectares de chão. Para não ficarem somente na soja, três hectares foram plantados com feijão, mas o volume nem chega a fazer sombra diante da principal cultura, que na propriedade deles não disputa espaço com o milho, caso de produtores maiores. “Para a gente não compensa, porque nós plantamos soja porque produz. O preço pode até não ser tão alto, mas em relação aos custos, é vantajoso”, argumenta Luís. A situação é semelhante a de Clemente Chuppel, que para esta safra, também se apóia nesse argumento para aumentar a área de soja. “O milho não tem compensado, por isto diminui a área”, relata.
Segundo Vitalino Perciak, o risco do milho é muito alto para compensar o preço pago hoje – cerca de R$ 18 a saca, enquanto a saca de soja valia, na cotação de ontem para Canoinhas, R$ 42. A lógica, no entanto, pode ser revertida.

MILHO DEVE VALORIZAR
Com a aposta na soja, a área plantada com milho na região deve ser menor. O resultado da safra menor do cereal deve gerar no mercado nacional, segundo especialistas no setor, uma valorização no preço do milho. Apostando nisso o agricultor Flávio Francisco Antonovicz manteve a área plantada com milho no ciclo anterior, mesmo enfrentando resistência dos filhos. “Aumentou um pouco a área da soja, mas eu preferi preservar uma parte com milho”, afirma. Ainda assim, dos 382 alqueires cultivados, 120 vão para milho, 20 para feijão e o restante, para a soja, revela o agricultor, que espera por uma safra farta, devido à previsão de chuva e umidade em níveis satisfatórios para o período de cultivo.

Novas fontes de biodiesel ficam nos experimentos

Lançado há quase cinco anos, o programa nacional de biodiesel como incentivo à agricultura familiar ainda não mostrou reflexos positivos para o setor. Quem comprova isso são os dados apresentados pelo Ministério de Minas e Energia. Segundo o órgão, em julho, a soja foi responsável por 78,7% de toda a produção de biodiesel no País, enquanto o sebo bovino foi a segunda matéria-prima mais utilizada (14,6%) e o óleo de algodão, a terceira (4,1%). De todo biodiesel produzido no Brasil, apenas 2,6% veio de outras fontes de outras fontes, como mamona, pinhão manso e girassol.
Para os Persiaki, que há dois anos tentaram o cultivo do girassol e foram visitados pela reportagem do CN, o maior desafio na cultura foi conseguir lucro na hora da comercialização, porque, segundo eles, na lavoura o produto rendeu. Para um grupo de agricultores que tentou o cultivo de pinhão manso em Canoinhas e Bela Vista do Toldo, o clima foi o entrave. “A ideia era muito boa, inclusive com resultados no campo experimental, mas a planta não resistiu à geada”, conta o vereador João Grein (PT), que mediou o plantio por meio do Sindicato dos Agricultores Familiares (Sintraf). As experiências na região e no restante do País revelam que o que falta para o projeto deslanchar ainda é a pesquisa.
De acordo o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Gilcimar Adriano Vogt, o programa enfrenta dificuldades na região por diversos fatores, um deles bastante relevante, a pouca lucratividade. Outros pontos também dificultam em culturas como o girassol, porque, segundo ele, além de ainda não haver o costume – e, portanto o manejo adequado – das plantas, a rentabilidade é comprometida. “Para a região somente as culturas de inverno são atrativas e, ainda sim, é preciso bastante estudo”, defende.

Matéria veiculada hoje, 13 de novembro de 2009.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Para os mestres, mais que maçãs

Educadores falam sobre a profissão, que comemorou seu dia ontem

Gracieli Polak
CANOINHAS

Com os olhos altivos e um sorriso largo no rosto infantil, a estudante Claris Sampaio revela satisfeita o que quer ser quando crescer: professora, ou mais que isso. “Quero ser uma boa professora”, conta. O motivo para uma decisão tão firme já aos nove anos de idade? Os bons exemplos que teve.
Instituído por decreto federal em 1963, o Dia do Professor, 15 de outubro, bem poderia ser chamado de dia do exemplo ou dia do reconhecimento pelo trabalho prestado. Mas, ao invés de maçãs ou mimos, a recompensa esperada pelos queridos mestres é a aprendizagem de seus alunos, seja na alfabetização ou em qualquer outra etapa de suas vidas. Segundo o Ministério da Educação, o Brasil tem aproximadamente 3,5 milhões de professores. Em Santa Catarina, eles são mais de 65 mil e, com certeza, mais de um deles vêm à memória quando você lembra-se da época escolar. Para homenagear cada um destes educadores, o CN conversou com alguns profissionais com personalidades distintas, mas com uma característica comum, a paixão pelo ato de ensinar.

ATENÇÃO PARA OS PEQUENINOS
Voz calma, sorriso doce e a típica imagem da tia se revelam em Marciane Komochena, que desde criança sonhava em ser professora. Quando pequena, nas brincadeiras com os irmãos, era ela quem comandava a escolinha. A segunda dos oito filhos do pai que queria a filha professora, Marciane riscou suas primeiras lições com pedaços de carvão em tábuas e, alfabetizando os irmãos menores, descobriu que queria aquilo para sua vida, não somente para agradar ao pai. Correndo atrás do sonho, foi fazer Magistério. Logo, estava na sala de aula, entre os pequenininhos. “Me encanta poder acompanhar o início do aprendizado, o despertar do conhecimento, a maneira da criança pensar. É gratificante”, explica.
Para ela a escola é o prolongamento de sua casa e a relação construída com as crianças, familiar. Com quase vinte anos de experiência com a educação, a professora descobriu que sua vocação era, mesmo, ensinar os pequenos. “As crianças são honestas com a gente. Nessa fase eles não têm malícia, são verdadeiras em tudo”, ressalta. Muito tímida na adolescência, ela explica que perdeu a inibição de falar em público justamente por causa do contato com os alunos. Aprendeu com eles, ensinando. “A troca e o aprendizado diário fazem o trabalho valer a pena. Essa humanidade do nosso trabalho é o que mais encanta”, afirma.

DESAFIOS
Passada a fase dos primeiros aprendizados, os alunos crescem, a escola muda. Nesta escola movimentada com a agitação da adolescência, Ângela Maria S. da Silveira e Maria de Lourdes Maieski se encontraram na profissão. Por opção, as duas professoras lecionam Língua Portuguesa para alunos mais velhos e, com muitos anos de estrada pelo magistério, se reinventam para que cada nova turma tenha pleno aprendizado.“A geração de 10, 15 anos atrás era muito diferente da de hoje. Muita coisa mudou e para que se consiga atenção durante as aulas, é preciso estar atento às mudanças”, diz Ângela.
A professora, que se esforça para se tornar amiga dos alunos, no entanto, vê na modernidade o grande desafio da profissão, mas um desafio que só motiva a inovação. “Eu gosto de alterar a forma como passo um conteúdo, propor mudanças nas formas de avaliação, sempre dialogando com a tecnologia, que hoje faz parte da vida deles”, explica. Com 32 anos de trabalho, o conteúdo aplicado para os alunos também não é mais novidade para Maria de Lourdes, mas o mesmo não se pode dizer da forma de aplicá-los, tanto quanto os alunos. “Cada ano que se inicia também é uma novidade pra gente”, diz.
Do relacionamento com centenas de estudantes todo ano, dizem as professoras, sobra o reconhecimento. “É gratificante ver a evolução dos alunos. O aprendizado, o amadurecimento de cada um deles é uma vitória que faz valer algumas situações críticas”, avalia Ângela. “Muitos vão para a faculdade, crescem profissionalmente e, quando nos encontram na rua, vem cumprimentar. A gente não perde o rótulo de professora, mesmo depois de anos”, ressalta Maria de Lourdes.
Sem perder o título carinhoso, agora as professoras convivem com colegas que antes eram alunos. Situação estranha? Não, gratificante.

NOVA GERAÇÃO
Ativo, impaciente e empolgado, Cesar Daniel Damaceno Júnior, o professor Júnior, é um exemplo do fôlego que a profissão tem tomado nos últimos anos. Natural de Porto União, Júnior começou a lecionar durante a faculdade de Letras, mas não imaginava tamanha paixão pela profissão que exerce há quase sete anos. “Eu queria muito fazer Jornalismo, mas não consegui passar no vestibular e, por aptidão, optei por Letras. Agora eu tenho certeza que acertei na escolha”, diz.
Das aulas na faculdade para o posto de mestre, pouco tempo e muito empenho. Junior foi chamado para assumir uma disciplina em uma escola em São Pascoal, interior de Irineópolis. Resolveu enfrentar o desafio de frente e, diante de sua primeira turma, teve a prova de que deveria ser mesmo professor. “Quando eu coloquei os pés na sala de aula e senti toda a receptividade dos alunos, tive a certeza de que nasci pra fazer aquilo”, conta.
O acolhimento da comunidade escolar e da própria comunidade de São Pascoal, segundo o professor, foi imprescindível para que seu trabalho fosse realizado. Juntando sua velha paixão pelo jornalismo, Júnior desenvolveu um projeto específico para seus alunos, relacionando diversas formas de textos e gêneros. E este foi só um deles. Hoje já pós-graduado, a preparação para fazer a diferença dentro de sala de aula continua. Entre as aulas, projetos e duas novas pós-graduações, ele diz que sobra tempo para ser amigo dos alunos. “Eu me sinto realizado na minha profissão ao ponto de poder dizer para outras pessoas que se elas querem, elas devem lecionar. O salário é um problema mínimo diante da recompensa que o reconhecimento deles proporciona”, ressalta.

RECONHECIMENTO
Antiga reivindicação da classe, o pagamento de um salário justo pela função é citado por toda classe como o maior dos fatores negativos, que inclui ainda o desrespeito dentro de sala de aula. Desde janeiro de 2009, um piso nacional vigora no País para a categoria e instituiu o valor de R$ 950 por 40 horas de trabalho semanal. Sendo base, o valor norteia o pagamento mínimo que pode ser feito, aumentando com a titulação.

Você acha o salário justo? Entre no nosso site e responda a enquete.

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Matéria veiculda hoje, 16 de outubro de 2009.

Quem paga a conta?

"Mais uma vez, o Código. Não, desavisados, não é o Còdigo da Vinci. Este promete ainda dar mais assunto que o famoso livro daqueles que não curtem boa literatura".

Com prazo perto do fim, agricultores esperam por definição
A menos de dois meses da data limite para averbação da reserva legal poucos legalizaram área

Gracieli Polak
CANOINHAS

Cercada e preparada para o plantio, uma área agricultável na propriedade da família Lima, no Salto d’Água Verde, espera pacientemente que o mato tome conta e a transforme, novamente, em floresta. No temor de que terras usadas para agricultura tenham o mesmo destino que esta área, esperar é a palavra de ordem para os agricultores da região, a menos de dois meses do último prazo fixado pelo Ministério do Meio Ambiente para averbação da reserva legal.
Até 11 de dezembro todas as propriedades rurais devem registrar as áreas destinadas à reserva, que em algumas regiões, como a Amazônica, chega aos 80%, mas no caso de Santa Catarina está fixada em 20%. Separada das demais áreas usadas para agricultura, a reserva precisa ser fechada e livre de interferências externas, como a presença de gado. Exigida pela Lei, a medida traz preocupações para agricultores que aguardam pela aprovação do Código Ambiental de Santa Catarina, que entre outras medidas, propõe a incorporação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) na reserva legal.
Para a agricultora Hilda Roesleir, que hoje aposentada apenas arrenda suas terras para que outros as cultivem, a averbação das áreas traz problemas não só para ela, mas para maioria dos pequenos produtores da região. “Muita gente não vai ter onde plantar. Quem tem terreno cortado por algum veio d’água simplesmente vai ter de parar de produzir”, lamenta Hilda. A preocupação da agricultora, dizem as entidades de classe, é fundamentada. Somente em Santa Catarina, 30 mil propriedades produtivas desaparecem se tiverem de se adequar às normas propostas no Código Florestal Brasileiro para averbação da reserva legal, segundo a Faesc.
Preocupante, a situação criou um embate histórico entre ruralistas e ambientalistas no País. No centro da disputa, a preservação de uma área que para alguns agricultores é, simplesmente, o lugar de onde tiram seu sustento, a mesma que para ambientalistas significa a conservação dos mananciais e do meio ambiente. Na espera pela decisão final sobre a Lei que vai reger o Estado, a decisão dos agricultores que ainda não legalizaram sua área de preservação é pela espera. Osnildo de Lima, que teve de averbar e perder uma área de plantio espera por uma decisão para registrar o restante da propriedade. “Não dá para arriscar fazer agora e depois perder. O jeito é torcer para que seja aprovada a melhor solução”, reclama.

FATMA ESPERA
Segundo o gerente da Fundação do Meio Ambiente (Fatma) de Canoinhas, Silmar Golanovski, a sensação de dúvida existente nos setores agrícolas em relação à adequação à Lei também existe no órgão, um dos responsáveis pela fiscalização ambiental. Além da Fatma, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Polícia Ambiental, fiscalizarão o cumprimento da norma, mas, no Estado, permanece o impasse. “As leis são feitas em Brasília ou em Florianópolis e tudo isso vem para a Fatma. Nós não fazemos as leis, não determinamos o que facilita ou o que complica a vida do agricultor, somente as aplicamos”, defendeu Golanovski. O gerente admite que haja ainda um impasse em relação ao Código, mas que, justamente por ter de fazer com que as normas sejam cumpridas no Estado, torce para que a situação seja abrandada. “É necessário preservar, mas é não é só o agricultor que deve pagar por isso. Todo mundo precisa fazer um pouco”, citando outro artigo polêmico do Código estadual. Pelo texto, o agricultor que preservar mais do que a área exigida pela Lei, deverá receber para manter mata intacta. “Todos devem pagar a conta, não somente os agricultores”, defende.

MAIS TEMPO
Prorrogado em dezembro do ano passado, o prazo definitivo, até o momento, para a legalização das áreas de preservação acaba em 11 de dezembro. A partir da data, os agricultores estarão sujeitos a autuações e multas que podem variar de acordo com a área irregular, mas, como a legislação prevê, ainda terão 120 dias para se adequar, caso o prazo não seja prorrogado novamente, situação não descartada pelo Ministério do Meio Ambiente.

Matéria veiculada hoje, 16 de outubro de 2009.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Educação nota 10?

O que falta para que nossa educação seja de qualidade?
MEC preconiza que escola deve ter média mínima 6 no Ideb; em Canoinhas, maior nota é 5,7

Gracieli Polak
CANOINHAS

Pelos critérios de avaliação do Ministério da Educação (MEC), nenhuma das escolas municipais ou estaduais do Ensino Fundamental de Canoinhas oferece aos seus alunos educação de qualidade. Segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), ainda falta muito para que o município, assim como o País, atinja a nota 6 na prova que avalia a qualidade do ensino na primeira etapa da vida escolar.
A informação de que a educação brasileira não é satisfatória não traz nenhuma novidade. Poucos colégios dos 5,5 mil municípios do País superam a nota estipulada pelo MEC e na região, somente o Centro Educacional Itaiópolis, de Itaiópolis, obteve nota maior que o 6 preconizado pelo ministério na avaliação realizada em 2007, embora a Escola de Educação Básica Sagrado Coração de Jesus esteja perto, com 5,7. Nas séries iniciais o Sagrado, junto com a Escola de Educação Básica João José de Souza Cabral, também tem a maior nota de Canoinhas, 5,4, mas ainda não chega lá. O CN conversou com os dirigentes das melhores e das piores escolas, segundo o índice do Ideb, e buscou respostas para explicar o problema.

SAGRADO E CABRAL, AS MELHORES
Boas estruturas, professores qualificados, projetos pedagógicos adequados ao desempenho dos alunos, interesse dos pais em participar da vida escolar dos filhos são fatores comuns nas duas escolas melhores colocadas. Gigantes no tamanho e na quantidade de alunos, Sagrado e Cabral hoje são referência na cidade, mas segundo o MEC, ainda precisam melhorar.
A diretora do Cabral, Maria Tereza Feger Olsen, administra a escola que abriga uma média de 800 alunos e credita o aumento na nota recebida à boa qualificação do colégio e também da comunidade escolar. “Não é só a prova: é todo um contexto”, defende, mas explica que ainda precisa melhorar. Nas condições da instituição, que tem absoluta maioria do quadro profissional efetivo, boa participação dos pais, professores atuando em sua área de formação específica e índice de desenvolvimento social razoável, segundo Maria Tereza, a obtenção da nota ideal no índice, para a diretora, será a consequência do trabalho realizado. “Estamos acima da média de Canoinhas, mas ainda estamos muito longe da média 7 que queremos alcançar”, conclui.
Para atingir esse patamar, o investimento dos profissionais no desenvolvimento e no respeito ao programa pedagógico e a atuação intensiva na educação dos estudantes são atividade constantes, segundo a diretora. Segundo a projeção do MEC, em 2013, o Cabral alcança a nota 6,1 nas séries iniciais.
Ainda neste ano, segundo a mesma projeção do MEC, o Sagrado chega à média 6, na avaliação que será realizada em dezembro e terá seus resultados divulgados no decorrer de 2010. A escola, que alcançou média 5,7 nas séries finais, nessa fase, no entanto, tem previsão de chegar à média 6 em 2015.

RODOLFO E GADZINSKI, OS PIORES
Situadas em bairros em que as desigualdades sociais são gritantes, com avanço crescente do uso de drogas e crescimento da violência, as últimas colocadas no índice compõem um quadro comum de dificuldades, concentradas principalmente na falta de perspectivas dos alunos.
Para a diretora da Escola de Educação Básica Rodolfo Zipperer, última colocada de 6.ª a 9.ª séries, Margareth Dambroski, uma série de fatores influenciou o resultado negativo obtido pela instituição, inclusive a visível falta de estrutura física do complexo estudantil, situação que se arrasta enquanto o novo prédio não é concluído. Segundo Margareth, fatores como a falta de perspectiva familiar e condições sócio-econômicas baixas, aliadas à criminalidade e ao aumento indiscriminado do consumo de drogas no bairro fazem com que o interesse dos alunos pelas questões escolares seja minimizado. Outro fator, avaliado pelo Ideb, a relação entre a série e a idade do estudante, no Rodolfo se traduz em distorção série idade. “Nós temos muitos alunos de 15 anos na 5.ª série, crianças que não estão na sua série ideal, mas que não tiveram condições de avançar”, conta.
No Grupo Escolar Municipal Frei Fabiano Gadzinski, pior desempenho de 1ª a 5.ª série, localizado no bairro Cristo Rei, a falta de perspectiva dos alunos se repete. Segundo a diretora da instituição, Luzíria de Barros Pereira Cordeiro, os problemas enfrentados pelos professores extravasam os limites das salas de aula, porque o desempenho fraco de grande parte dos estudantes são questões estruturais, familiares na maioria das situações. “Muitas crianças não são motivadas a estudar. Falta incentivo dentro de casa e, sem perspectivas, o trabalho também fica difícil”, explica.
Localizada em um dos bairros mais pobres de Canoinhas, a situação sócioeconômica da região, segundo a diretora, é uma agravante da situação, porque as crianças não conseguem ter um nível aceitável de concentração nas aulas, o que provoca o desencadeamento dos outros problemas, como a distorção série idade, situação constatada no Rodolfo. Outro fator enfatizado pelas profissionais é a falta de participação dos pais, elemento fundamental para obtenção do bom desempenho das melhores colocadas. “Tem criança que leva tema para casa, mas a mãe nem se preocupa em olhar o que a criança faz. Além disso, há muita desigualdade e exclusão social, porque para muitos a escola serve apenas para conseguir os benefícios do Governo”, diz Maria de Lourdes Lemos, orientadora pedagógica da instituição.

ESTRATÉGIAS DE MELHORIA?
Aliar poder público ao desenvolvimento dos estudantes tem sido a estratégia adotada pelas escolas em piores condições para melhorar a qualidade do ensino. Na Frei Fabiano, uma parceria com o CRAS 2, que atende à região, pretende trabalhar com as famílias para que haja maior incentivo à educação dos filhos. “O trabalho agora é de fora para dentro. Somente as quatro horas que eles passam na escola não fazem milagres”, esclarece Luzíria. No Rodolfo, estratégias parecidas se repetem. “Com certeza o índice baixo não é por causa dos professores ou por falta de investimento na educação, mas o meio influencia muito”, analisa Roseli de Fátima Schivinski, professora que atua provisoriamente no apoio pedagógico na escola.
Segundo ela, alguns projetos são desenvolvidos na escola justamente para criar uma identidade otimista nos alunos, principalmente pela situação de degradação que o colégio enfrenta. Esperada para o ano que vem, a inauguração do novo prédio traz esperança para os profissionais, que ainda querem transformar o “caldeirão Rodolfo” em uma escola modelo. Na projeção do MEC, somente em 2021 a escola alcançará a média 5,1, ainda longe de ser qualificada.
A gerente de Educação da 26.ª Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR), Francisca Maiorki explica que todas as escolas recebem tratamento igual e os fatores apontados pelas diretoras, como os índices sócioeconômicos baixos são, sim, determinantes para a diminuição do índice. “As escolas com rendimento baixo estão recebendo capacitação específica para melhorar a qualidade, principalmente tentando mobilizar a comunidade em que está inserida”, diz.
Para Francisca, em relação à média nacional, o índice alcançado por Canoinhas é satisfatório, mas ainda tem muito para melhorar. A média brasileira no Ideb 2007 foi de 4,2. A projeção para o País é de que em 2022 a média seja 6, considerada satisfatória.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Tempo fechado!




Possível tornado provoca devastação no interior
Pinheiros foram arrancados; madeira deve ser legalizada, diz Fatma

Gracieli Polak
CANOINHAS

O encontro de duas massas de ar diferentes causou a mudança radical no clima que atingiu o Estado desde o domingo, 6, segundo o Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram). Além da chuva forte, no interior de Canoinhas, o vento assustou e deu trabalho aos moradores, que, graças ao período de entre safra, não tiveram muitos prejuízos, mas viram destruição em áreas de mata.
Na propriedade de Írio Dranka, no Salto d’Água Verde, a tormenta da madrugada de terça-feira, 8, que provocou a morte de quatro pessoas em Guaraciaba, no Oeste de SC, deixou 1 milhão de pessoas sem energia elétrica, além de 45 cidades com 340 mil casas danificadas, deixou ainda devastação na mata nativa do agricultor. Inúmeras árvores tiveram copas e galhos arrancados, mas a violência do vendaval ficou mais evidente com os estragos sofrido pelas araucárias da propriedade. “Nove pinheiros foram para o chão. Cinco perderam a copa e outros quatro foram arrancados pela raiz”, conta o agricultor. Dranka suspeita que um tornado tenha passado pelas suas terras, porque algumas árvores que perderam galhos estavam retorcidas em várias direções. “O vento veio de todos os lados, então isso pode ter sido um tornado”, acredita.
De acordo com o Ciram, é necessário fazer uma vistoria para comprovar o fenômeno, mas, devido ao grande número de cidades atingidas, este trabalho não é ágil. “No entanto, existem evidências de que o fenômeno pode ter atingido a região. Em alguns locais somente imagens já podem confirmar a ocorrência do fenômeno” diz a meteorologista Laura Rodrigues.

NA REGIÃO
Em Três Barras, de acordo com informações do Corpo de Bombeiros, houve apenas duas ocorrências registradas, para retirada de árvores da pista. Em Bela Vista do Toldo, o fenômeno destelhou algumas casas, mas os prejuízos maiores foram na zona rural, devido às árvores caídas na rede de energia elétrica do município. Até a tarde de ontem, algumas comunidades ainda estavam sem energia.
Monte Castelo teve 270 edificações atingidas, com pelos menos dois feridos, sendo uma vítima de infarto e 40 desalojados.
Para quem teve árvores nativas arrancadas em sua propriedade a gerência regional da Fundação do Meio Ambiente (Fatma) faz um alerta: é preciso regularizar a madeira para poder utilizá-la. “É preciso que eles regularizem a situação, até mesmo porque o transporte até uma serraria, por exemplo, precisa estar documentado”, esclarece a bióloga Mariane Murakami da Silva.
A Fatma, segundo Mariane, está recebendo inúmeros pedidos de informação sobre a regularização desde terça-feira, mas para que os proprietários possam aproveitar a madeira, obrigatoriamente, devem entrar com projeto junto ao órgão.

NÍVEL NORMAL
A chuva deixa as comunidades ribeirinhas apreensivas. A altura do rio Canoinhas, segundo informações do 9.º Batalhão de Bombeiros, ainda não é preocupante. Medição realizada ontem à tarde constatou que o nível de água é de aproximadamente 4,4 m. Quando atinge 5,7 m a situação começa a preocupar.
Entre segunda-feira, 7, e ontem, a estação meteorológica de Major Vieira, registrou choveu 109 milímetros. O volume só é menor que o registrado em Urubici, no Planalto Sul, e Rio do Oeste, no Alto Vale do Itajaí.

Tempo deve permanecer instável no final de semana
Chuva permanece e risco de ventos fortes persiste: comunidades ainda estão sem luz

Oficialmente em situação de emergência, Canoinhas ainda conta os prejuízos causados pela forte chuva da madrugada de terça-feira, 8. Segundo dados oficiais da Defesa Civil do Estado, 310 edificações foram afetadas em Canoinhas e o município espera o reconhecimento do decreto para receber ajuda do Governo do Estado. “Cerca de 150 pessoas nos procuraram para receber ajuda, como lonas para cobrir as residências”, afirma Felipe Davet, coordenador da Defesa Civil no município.
Em decorrência do vendaval, o Corpo de Bombeiros também recebeu pedidos para atender a mais de 40 casos, mas, na maioria das chamadas, o auxílio era prestado também para os vizinhos, por isso, de acordo com a entidade, não foi possível precisar a quantidade exata de pessoas atingidas. Quatro dias depois do fenômeno, de acordo com Davet, a situação agora é estável, agravada apenas pela falta de energia elétrica nas residências do interior do município.

SITUAÇÃO CRÍTICA
Em toda a região, até a tarde de ontem os problemas com falta de energia elétrica persistiam. Segundo o chefe da agência de Canoinhas da Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), Osvaldo Roberto Romanowski, a situação é crítica, porque os estragos provocados pelo temporal ainda são incalculáveis. “Estamos trabalhando em 10 equipes, praticamente sem parar, e não conseguimos arrumar tudo”, diz.
Romanowski conta que mais de 30 postes foram arrancados e a quantidade de fios atingidos por galhos de árvores não pode ser precisada. Em algumas comunidades do interior, como Serra das Mortes, Barra Mansa e Rio d’Areia a energia ainda não foi restabelecida. “Se o problema tivesse acontecido somente aqui, nós teríamos reforços, mas como aconteceu em toda a região, falta pessoal para fazer o conserto”, explica. Diante da situação, o alerta para que as pessoas não se encostem a fios caídos permanece. “Pode ter corrente elétrica, então é perigoso. Não queremos nenhum acidente deste tipo”, esclarece.

O QUE ESPERAR DO TEMPO?
A chuva que cai sem cessar desde o domingo, 6, promete mais uma vez aparecer durante o final de semana na região. De acordo com previsão divulgada pelo Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram) uma leve melhora poderá ser sentida hoje na região, quando as precipitações serão intercaladas com momentos em que o sol aparecerá. Amanhã e no domingo, 13, no entanto, o tempo fecha mais uma vez, mas os fenômenos previstos para estes dias são menos dramáticos que os enfrentados no começo da semana.
As temperaturas amanhã oscilam entre 13 e 19° C, com rajadas de vento que podem chegar aos 30 Km/h, com chuva durante o dia todo. Para o domingo, a oscilação é maior, entre 11 e 22° C, e no início e no final do dia o sol poderá aparecer. Com precipitação acima de média no mês de agosto e também maior que a expectativa neste começo de outubro, a instabilidade é preocupante na região (acompanhe previsão para próximos meses ao lado).

Matérias veiculadas hoje, 11 de setembro de 2009.

Correio do Norte

Quem lê, sabe.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Elas querem espaço!






Na construção civil mercado é aberto aos poucos; nos cursos acadêmicos de exatas, presença ainda é reduzida

Gracieli Polak
CANOINHAS

Passar pela frente de uma obra pode não ser mais uma tarefa tortuosa para as mulheres. Isso porque, aos poucos, a construção civil tem se aberto para profissionais do sexo feminino e mudando um conceito antigo da sociedade. Agora, obra é lugar de mulher sim, inclusive em Canoinhas.

Nas construções da cidade uma tendência surgida no Rio de Janeiro aparece com força e muda o cenário, antes somente masculino. Na capital carioca, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) lançou um curso específico para formar mulheres para trabalhar em diversas áreas da construção civil e promove sua incursão no mercado de trabalho. Em Canoinhas elas se aventuram no ramo buscando conhecimento por conta própria, enquanto uma nova geração busca espaço nas cadeiras de cursos universitários historicamente masculinos, como engenharia.

No meio do universo de trabalho masculino, mesmo em meio às dificuldades de adaptação e reconhecimento dos colegas, de uma coisa elas têm certeza: “com competência, seu lugar se garante, independente do sexo”.

A CHEFE DA OBRA
Com um sorriso no rosto e um capacete na cabeça, a contramestre das obras do Instituto Federal de Santa Catarina comanda mais de 50 homens e coordena o trabalho na construção grandiosa empreendida no bairro Campo d’Água Verde, que em poucos meses abrigará centenas de estudantes. Aos 33 anos de idade, Mariléia Vieira Domingos se prepara para ser mestre de obras na construtora em que trabalha há dois anos e, na hierarquia do local de trabalho, só tem um subordinado. “Eu mando nessa obra”, fala, empolgada.
Enfermeira por formação, Mariléia não se encontrou profissionalmente em sua área e, entre um emprego e outro, no comércio ou no varejo, acabou na construtora. “Eu comecei a trabalhar como zeladora. Em três meses eu já era apontadora da obra”, conta. Curiosa e interessada pelos problemas do trabalho, ela começou a ganhar espaço e, com o surgimento da construção em Canoinhas, foi convidada para vir para a cidade, com o propósito claro de ser preparada para se tornar a única mestre de obras da construtora. “Quando surgiu a oportunidade de vir para Canoinhas, como contramestre, eu aceitei na hora. É uma ótima oportunidade de crescer no ramo”, explica.
A contramestre, que nunca pensou em trabalhar nesta área, afirma que, no entanto, a adaptação dos homens à chefia feminina não foi tão rápida como sua ascensão profissional, fator responsável por algumas situações incômodas na profissão. “Foi preciso ter muita força de vontade, porque homem já é um tipo complicado. Peão de obra, então, é mais ainda, mas foi preciso me impor. Hoje eu tenho uma equipe formada, que respeita meu trabalho e meu comando”, diz.

VAIDADE?
Sempre de capacete ou de boné, uniforme da empresa e sapatões que contrastam radicalmente com uma das paixões femininas, vaidade na profissão de Mariléia é um artigo de luxo, que ainda afasta muitas mulheres do trabalho pesado, de sol a sol. “Eu queria montar uma equipe só de mulheres aqui em Canoinhas. Cheguei a entrevistar várias, mas quando a realidade aparece, muitas caem fora. O capacete, a botina, a roupa suja ainda assustam”, diz. Ainda assim, na construção do IFSC há duas mulheres sob seu comando: uma apontadora e uma ajudante de pedreiro.

Ainda que no uniforme da obra, “mulher é sempre mulher” e por isso, todo pequeno cuidado não é frescura. “Protetor solar tem de passar sempre e de vez em quando, também um cremezinho. Durante a semana eu não sei ficar sem um boné na cabeça, mas durante as folgas isso muda”, revela Mariléia, que pretende voltar a estudar para crescer ainda mais na profissão. Em breve, assim que a obra em Canoinhas terminar, ela volta para Joinville, onde mora, e começa um curso técnico em Edificação, ou a faculdade de Engenharia Civil. “Não saio mais daqui não. O meu trabalho agora é na obra, só preciso me aprimorar sempre”, conclui.

PRESENÇA REDUZIDA
Com mercado sempre garantido, a carreira universitária nas profissões consideradas masculinas passa a ser considerada por um número cada vez maior de mulheres, mas ainda com restrições: mulheres ainda são unanimidade em algumas áreas da saúde, como Enfermagem, Nutrição e Psicologia, aonde a proporção feminina chega a 100% nas universidades.

Micheli Seleme é uma das poucas mulheres que passam pelas salas de aula dos cursos de exatas das universidades brasileiras. Formanda do curso de Engenharia de Telecomunicações da Universidade do Contestado (UnC), ela é a primeira mulher a se formar no curso em Canoinhas e, na sala repleta de homens, apenas mais duas mulheres a fazem companhia. O interesse pela área surgiu ainda no colégio, quando os celulares começaram a se popularizar e a internet também começou a ganhar corpo no País. “Eu sempre fui muito curiosa e queria saber o que estava por trás das coisas, como tudo funcionava”, diz.

Aos 16 anos, Micheli entrou na faculdade de engenharia e teve de batalhar por seu espaço em meio à maioria absoluta de homens. “No começo eu tive resistência mesmo dentro do curso, mas com o tempo a situação melhorou e hoje não existe mais”. Com mercado de trabalho aberto para a profissão, Micheli pretende arriscar construir uma carreira em uma cidade maior, com uma resposta pronta para quem demonstrar preconceito contra a “invasão” feminina. “Se você mostrar competência, independente de ser homem ou mulher, você vai ser reconhecido”.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), independente de executar as mesmas funções que os homens, as mulheres ainda recebem cerca de 10 % a menos que os colegas do sexo masculino.

Matéria veiculada hoje, 28 de agosto de 2009.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Passado. Presente... Futuro?

"O plano era sair sem rumo com meu colega, como já fizemos uma vez (ou duas, quem sabe três). Mas, como quase tudo que a gente planeja, não deu certo.
E como quem não tem cão caça em Bela Vista..."

De colonos a empreendedores rurais

Evolução agrícola foi rápida, valorização do agricultor nem tanto; Passado, presente e futuro da base do Brasil falam sobre a vida no campo

Gracieli Polak
BELA VISTA DO TOLDO/CANOINHAS

“Antes quem trabalhava no campo era chamado de colono. Hoje nós somos chamados de agricultores, mas, estamos em busca de um dia nos tornarmos empreendedores rurais. Esse é o futuro de quem trabalha na roça: adquirir conhecimento, melhorar sua produção, aumentar sua qualidade de vida, ser um empreendedor dentro de sua propriedade”, defende o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Canoinhas, Edmar Padilha, ao falar da classe que defende e que amanhã, 25 de julho, comemora seu dia.
Da capoeira cortada a facão à utilização de implementos que preparam a terra do preparo à colheita, cerca de três gerações de colonos, agricultores ou empreendedores rurais produziram grande parte das riquezas do Planalto Norte. Entre as extensas plantações de soja e de milho e as pequenas, mas numerosas, lavouras de fumo, 23% da população da região se mantém no campo e alimenta não só um dos segmentos mais rentáveis da economia da região, mas também a mesa de uma população ainda maior. Com maquinário e tecnologia avançados, a tendência, segundo especialistas no assunto, é que a agricultura brasileira seja ainda mais representativa no mundo, com produções recordes e melhor aproveitamento do solo, no entanto, nas projeções de mercado, a figura do agricultor ainda é negligenciada. Mas é no campo, no suor da lida diária, que os alimentos presentes na mesa dos brasileiros são produzidos há séculos.

PASSADO EDIFICANTE
“Não tem explicação o quanto era diferente do que é hoje. Essa nossa luta na lavoura era muito custosa”, diz o agricultor aposentado Porfírio Iarrocheski, morador da localidade de Rio Bonito da Imbuia, interior de Bela Vista do Toldo. Aos 74 anos de idade, “quase isso de lavoura”, o agricultor viu crescer e se desenvolver seu ramo de atividade e, ao lembrar o trabalho naquela época o “contador de causos” é capaz até de fazer duvidar jovens acostumados com as facilidades da atualidade.
Iarrocheski conta que na primeira vez que veio para Canoinhas, aos 11 anos de idade, acompanhou o irmão que trouxe uma “carrada” de erva-mate para comercializar na cidade. Na viagem que durou um dia para a ida e outro para a volta, muitas novidades assustaram o jovem colono, como o rádio, que o deixou chocado. “Mas eu levei um susto, parei e perguntei para o meu irmão o que que era aquilo. Não sabia que existia”, se diverte.
A erva produzida artesanalmente em carijos e barbacuás, as lavouras consorciadas, com o feijão malhado a cambau (em uma lona no chão, com varas), o trabalho de dias ou até semanas para a plantação de um único hectare de terra eram realidade na região, interligada com Canoinhas por uma estrada aberta a enxadão pelos colonos. “Ás vezes chegava a juntar de 50 a 60 carroceiros no mercado. Ninguém aqui tinha condução, nem mesmo os mais abonados. Se precisava ir até algum lugar ia de cavalo ou carroça, não era fácil como é hoje”, explica, mas defende. “Dava um trabalho desgraçado, mas não era ruim não. Aquele era o tempo da erva boa e a gente sempre colhia bastante, muita abóbora no meio do milho”, relembra.
Aposentado desde que completou 60 anos de idade, Iarrocheski foi diminuindo o ritmo de seu trabalho. Do passado sofrido no tempo que o cultivo da terra era artesanal, para o colono, sobrou muito orgulho de sua luta e o gosto pelo cultivo e pelo cuidado. “Para quem gosta de criação, o berro de uma vaca é uma alegria. Não tem explicação, mas com a idade, fica mais difícil administrar tudo”, diz. Criado no trabalho braçal, o agricultor passou a vida entre arados e implementos puxados a tração animal e hoje, com a idade mais avançada, arrenda suas terras para os agricultores. Mas o tema recorrente de suas conversas é o trabalho no campo, como o realizado pelo amigo José Oldemar Ossowski.

PRESENTE CONSOLIDADO
De aparência tranqüila e com olhar voltado para suas terras, Ossowski, que produz soja, milho, feijão, fumo, leite e gado de corte pertence a uma geração diferente da de Iarrocheski, mas partilha muitas discussões com o antigo agricultor. Morador da comunidade de Lagoa do Sul, Ossowski começou a trabalhar na terra também bastante jovem e aprendeu a plantar usando arados a cavalos, até que, aos poucos, o maquinário começou a ser adquirido. Desde a aquisição das máquinas, segundo ele, o trabalho ficou menos árduo, mas isto não significou grande facilidade para cultivar as lavouras. “É claro que diminui o trabalho, o tempo de plantio, mas trouxe novas preocupações. Hoje o agricultor tem de ter conhecimento para trabalhar com as máquinas, com agrotóxico, com adubos. Tem de se aprimorar e ainda torcer para que seu trabalho seja valorizado”, ressalta.
Da mesma geração de Ossowski, o agricultor Arnaldo Mielke também conheceu duas etapas distintas da produção agrícola da região. Enquanto jovem, o trabalho foi no cabo da enxada. De uns anos para cá, as máquinas ocuparam seu espaço no campo. Na localidade de Rio d’Areia de Cima ele planta fumo, milho, feijão, além de produzir leite, e sente a diferença na evolução de sua profissão, mas não o suficiente para fazer com que deseje que o filho, Aurélio, siga o mesmo caminho que o dele. “Hoje o fato de você ter trator e implementos facilita muito em algumas culturas, mas, nas pequenas propriedades, o trabalho ainda é braçal, como no caso do fumo. E muitas vezes não compensa, porque o custo é muito alto para pouco retorno”, afirma.
Vindo de uma família com 11 irmãos, Arnaldo foi um dos quatro que permaneceram na mesma profissão dos pais e agora, para o filho único, espera “uma profissão melhor”, segundo ele, com maior autonomia. “Na hora de comprar adubo o preço é imposto, você tem de pagar, mas na hora de vender o produto, quem escolhe o preço é o comprador. A gente fica nas mãos dos outros e eu não quero isso para ele”, esclarece.

DE OLHO NO FUTURO
Aurélio Miguel Mielke, de 17 anos, filho de Arnaldo, pretende permanecer na agricultura, mesmo que o pai não concorde completamente com sua decisão. Familiarizado com o trabalho rural desde pequeno, Aurélio conheceu a lida de uma maneira bem diferente da que do pai e embora o cultivo de fumo ainda demande uma grande carga de trabalho manual, a mecanização na propriedade dos Mielke acontece de larga data. Para se especializar no cuidado da propriedade que um dia será sua e para atender aos desejos do pai, Aurélio pretende cursar Agronomia ou Medicina Veterinária, mas não agora. “Eu não quero fazer vestibular agora, sair de casa. Acho que um pouco mais para a frente eu posso fazer isso”, conta. Mas nem todos os jovens da mesma comunidade pensam assim e grande parte não quer permanecer na agricultura, como o primo de Aurélio, Everton Renam Mielke. “Eu não quero ficar plantando fumo não. Quero estudar e ter uma outra profissão, mais valorizada”, explica.

QUE FUTURO?
Em meio à alta demanda de jovens que largam a agricultura para viver na cidade, o questionamento em relação ao futuro é pertinente, mas não desanimador. Para as entidades de classe, ele está nas mãos dos jovens agricultores interessados em uma nova forma de produção: a empreendedora. “Estudos mostram que agricultores com condições melhores dão mais perspectivas para os jovens permanecerem no campo, o que faz com que haja melhoria na produção, na qualidade de vida, e que cada vez mais jovens desejem permanecer no meio rural”, fala o pesquisador Milton Luis Silvestro, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).
Para Silvestro o grande problema da evasão do jovem do campo está entre a vontade de permanecer e a construção de um futuro na agricultura. “Faltam políticas públicas para fortalecer a profissão, para dar melhores condições de vida e rentabilidade”, defende.
Atuando nesta linha, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) promove cursos estimulando a formação de empreendedores rurais para agregar mais valor aos produtos rurais. Em Canoinhas, as aulas começaram em junho e criam um novo horizonte para o setor, já percebido pelos agricultores, como Ossowski. “O futuro está na transformação do colono em empreendedor rural. Um litro de leite é vendido aqui na propriedade por R$ 0,50, enquanto um quilo de queijo, que leva aproximadamente seis litros de leite para ser feito custa bem mais, como eu comprovei comprando esses dias em uma associação de produtores. Beneficiar faz com que o produto agregue renda e este deve ser o futuro da agricultura familiar”, defende.

Matéria veiculada na sexta-feira, 24 de julho.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Vamos falar sobre sexo?



PAPO CABEÇA SOBRE SEXO
Adolescentes falam de certezas e incertezas da vida

Gracieli Polak
CANOINHAS

No documento, menor de idade. Na cabeça dos pais, eternas crianças. Na deles mesmos, donos de si. Quem disse que ser adolescente é fácil? Na falta de definições para este período de transição, rótulos coloridos e extravagantes como o universo que os cerca surgem em diversas situações e várias formas. Para conversar sobre temas que fazem parte do universo teen, o CN reuniu um grupo de jovens e propôs um debate sobre questões pertinentes a esta fase da vida, em que as dúvidas são ainda mais latentes que as certezas.
Com idades entre 16 e 17 anos, alunos do terceiro ano do Ensino Médio, Eduardo, Kaio, João, Gabriel, Caroline, Marina, Letícia e Amanda estudam no Colégio Realização, são muito diferentes entre si, mas compartilham dúvidas comuns. Enquanto alguns sabem exatamente o que esperam do futuro, outros não têm definição alguma. Com temperamentos também distintos e concepções diferentes, eles conversaram sobre sexualidade, conhecimento sobre métodos anticoncepcionais, relacionamento com os pais e o resultado disso misturado, tudo ao mesmo tempo e agora.

Na família, mais que informação sobre sexo

Diálogo com pai e mãe é focado na preservação da saúde

Que assunto pode provocar mais rubor em meninas e meninos que temas relacionados à sexualidade? Do primeiro namoro às primeiras relações sexuais, o assunto ainda visto como tabu pela sociedade é natural e inerente ao ser humano. Então, porque não conversar sobre ele?
Segundo uma pesquisa divulgada em julho pelo Ministério da Saúde, a vida sexual dos brasileiros está começando cada vez mais cedo. Aos 15 anos, cerca de 27% dos jovens já iniciaram suas relações entre lencóis. Se os jovens conhecem o sexo cada vez mais cedo, o debate em casa sobre o assunto deve começar igualmente mais cedo, segundo profissionais da área, para que situações de risco sejam amenizadas.
Para as meninas, o diálogo com os pais tem grande importância e, em qualquer situação, o apoio da mãe deve ser requisitado, porque amizade entre mãe e filha deve ser priorizada. “Eu conto tudo para minha mãe, peço orientação, quero saber o que ela pensa sobre muitas coisas. Para mim, mãe tem de ser minha melhor amiga e é essa relação que eu tenho com ela”, explica Marina, que tem os pais separados.

ESCOLA COMO MESTRE

Os adolescentes ouvidos pelo CN dizem que sexo é assunto para ser discutido na escola, sim senhor. “Nós tivemos aula de saúde logo no começo do Ensino Médio e deu para aprender muita coisa, inclusive os métodos anticoncepcionais. È uma informação orientada, debatida e, claro, tem uso prático na vida”, esclarece Kaio.
Embora afirmem ter bom relacionamento com os pais e abertura para falar sobre sexualidade em casa, a maior parte do grupo acredita que só a informação aprendida na escola já é suficiente. “Tudo é bem explicado na escola. Não sobra dúvida, ou se sobra é pouca coisa, para perguntar para a minha mãe”, defende Marina. “Mas também não dá para falar tudo, né? Eu não vou chegar para ela e dizer que fiquei com tal garoto, ou alguma coisa assim, só quando é alguma coisa que realmente tem importância”, reitera. “Até mesmo porque nem sempre é uma boa ideia contar tudo para mãe. Eu muitas vezes, em assuntos assim, falo com meus irmãos”, afirma Gabriel.

IRMÃOS COMPANHEIROS


Caçula na casa, Gabriel conta encontrar um caminho aberto de diálogo com o irmão e a irmã mais velhos, situação semelhante à de Eduardo, que também procura orientação com os irmãos. No grupo, quem não tem irmão mais velho, apela para o mais novo. “Eu prefiro conversar com meu irmão, que é mais novo que eu. Tudo bem que tenho abertura com minha mãe, também, mas é mais fácil”, conta João.
Entre pais e irmãos, ainda sobra muito espaço para os amigos. “Eu tenho irmãos mais velhos, mas é bom conversar com os amigos, porque a gente tem a mesma idade, às vezes dúvidas parecidas”, defende Letícia. Para o grupo, a conversa e a discussão entre o círculo de amizades é esclarecedora, mas não substitui o diálogo em família. “Minha mãe para mim é tudo. Eu posso até conversar com minhas amigas, mas não vou esconder as coisas dela, até mesmo porque se tem alguém que vai poder me dar orientação, é ela”, confirma Carol.

PALAVRA DE PROFISSIONAL

De acordo com a psicóloga Ana Carolina Zan, de Canoinhas, o interesse por assuntos relacionados à sexualidade é absolutamente normal nesta fase da vida, porque à medida que as primeiras mudanças começam a ser sentidas no corpo dos adolescentes, surgem as primeiras dúvidas. “Para esclarecer estas dúvidas, a participação dos pais é muito importante. Mas ela deve ser ponderada, para que os filhos não se sintam sufocados”, esclarece.
Segundo a psicóloga, a relação de cumplicidade em família deve ser estimulada por pais e filhos, mesmo que a fase vivenciada pelos adolescentes não seja amena. Ana defende que a informação a que os adolescentes têm, seja na escola ou nos grupos de amigos é, sim, importante, mas deve ser contextualizada. “Abertura em casa é essencial para que eles não vejam o sexo como uma coisa suja, proibida. Muitos adolescentes escondem sua sexualidade dos pais por pensar desta maneira e, com diálogo, eles podem ter uma nova concepção, que provavelmente vai gerar mais confiança e, inclusive, responsabilidade”, alerta.
Entre as dúvidas de pais que, segundo Ana Carolina, não conseguem enxergar que os filhos cresceram e que estão passando por tal fase de transformação, muitas vezes surgem situações problemáticas. “Desmistificar os assuntos relacionados à sexualidade, conversar abertamente, quebrar os tabus e orientar os filhos são atitudes que vão, com certeza, fazer a diferença nas escolhas deles”, orienta.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mulher no volante, perigo constante?

“Sim, eu estou orgulhosa.
Consegui minha Carteira Nacional de Habilitação faz umas poucas semanas e agora acho que posso dominar o mundo. Pena que ninguém acredita nisso. Fora meu pai, que é meu único entusiasta (entusiasta?) no trânsito, além do Totonho que ainda não sabe o que é isso, ninguém mais me cede o carro. As pessoas não acreditam que eu sou capaz de dirigir bem. Para ser sincera, eu também não acredito que eu dirijo bem, mas eu tento, assim como uma legião de mulheres que, como eu, conseguiu seu documento, mas ainda enfrenta a descrença de muitos homens.
Daí (e das minhas tias e primas que agora se veem como seres novos no trânsito) surgiu o CN Mulher desta semana.
Sai da frente, porque atrás vem gente. Bi-bi-bip!”


Mulher no volante, perigo constante?

Em quatro anos, número de mulheres no trânsito cresce 44%; envolvimento em acidentes é muito menor em relação aos homens
Gracieli Polak
CANOINHAS

Dois meses depois de completar 18 anos de idade, Scheila de Fátima Piechontcoski frequentou as aulas teóricas para conseguir sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e agora parte para a aprendizagem nas ruas. “Eu sempre quis ter minha carteira, porque acho muito importante poder se deslocar sem precisar depender de outras pessoas”, fala sobre a motivação para adquirir o documento tão logo a Lei permita.
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), quando completa 18 anos, o cidadão está apto para se candidatar ao documento que permite a direção de veículos como carros e motos, mas esta não é uma informação nova. Novidade é a quantidade crescente de mulheres que buscam seu lugar em um ambiente até hoje predominantemente masculino.
De acordo com o supervisor de CNH, Jair José Kohler, um aumento da proporção de mulheres em busca da Carteira de Habilitação pode ser sentida diariamente na Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) de Canoinhas. Kohler, que é o responsável pela aplicação do exame teórico aos alunos das autoescolas, conta que, nas salas compostas por 20 alunos, aproximadamente 12 são mulheres, enquanto apenas oito são homens – e mais jovens. “Não é uma estatística oficial, mas é o que a gente pode notar na prática aqui na região”, explica. O supervisor salienta que, à medida que aumenta o número de mulheres estudando para conseguir a documentação, a faixa etária também aumenta. “Hoje está mais fácil comprar um carro e as mulheres sentem a necessidade de ser independentes, mesmo depois de alcançar certa idade. Elas voltam para a sala de aula para fazer a carteira”, conta.
Para Leoni Paulo, secretária de uma autoescola de Canoinhas, a independência no trânsito hoje chega mais cedo. Segundo ela, há muitas mulheres com idade mais avançada buscando o documento, mas é comum ver casos como o de Scheila, que logo após completar a idade necessária, correu atrás de sua permissão para dirigir. “Quando eu fiz a minha CNH, há dez anos, as mulheres eram absolutamente minoria na sala de aula. Tinha uma proporção muito maior de homens atrás do documento, mas hoje já sentimos equilíbrio”, afirma.

CATEGORIA B

Segundo dados do Departamento de Trânsito (Detran) de Santa Catarina, 2,49 milhões de pessoas possuem CNH no Estado. Deste total, 1,7 milhão pertencem aos homens, o que corresponde a 68,7% e deixa as mulheres com apenas 31,3% dos volantes, menos de 1/3 dos documentos. Até aí, predominância masculina, porque a quantidade total de condutores engloba todas as categorias previstas, inclusive C, D e E, que permitem a condução de veículos pesados, como caminhões e ônibus. É no trânsito leve, nas cidades, que as mulheres conquistam seu espaço.
Em Canoinhas, 8.580 pessoas possuem Carteira de Habilitação B, 4277 mulheres, o que corresponde a 49,8% das pessoas com permissão para dirigir exclusivamente veículos de passeio. No Estado, a proporção é equivalente: para 481,1 mil homens habilitados na categoria B, 461,6 mil mulheres nas mesmas condições. Seria um perigo constante?

SEGURO MAIS BARATO

Não, absolutamente. Uma pesquisa realizada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) revela que os homens se envolveram em mais acidentes no País, nos últimos quatro anos. De 1,5 milhão de ocorrências notificadas de 2004 a 2007, 71% foram cometidas por homens, 11% por mulheres e 18% não foram informados, porque muitos condutores saem do local da infração antes da identificação. Tais dados, além de argumentos a favor da tomada do volante pelas mulheres, trazem outros benefícios.
Segundo a corretora de seguros Gladys B. Clasen, de Canoinhas, a mulher tem vantagens na hora de segurar seu veículo, mas é um desconto que não vem de graça. “As mulheres são mais cuidadosas, respeitam mais as leis de trânsito, os limites de velocidade, e isso acaba colaborando para que sejam beneficiadas”, afirma. A corretora alerta que há pesquisas que revelam que a quantidade de mortes ocasionadas por acidentes automotivos causadas por homens ao volante é muito superior à de mulheres, o que justifica o desconto concedido para as condutoras, que pode variar de caso para caso, mas gira em torno de 10%.

PRIMEIRA HABILITAÇÃO

Para Sônia Cristina Kluska Vieira, que aos 35 anos se aventura atrás de um volante, mais que um documento, a busca pela CNH se revela uma luta. Sem nenhuma experiência no trânsito como motorista, ela se recupera de uma luta de seis anos contra o câncer e, depois de concluir a faculdade de Artes, resolveu traçar novos objetivos. “Isso aqui pra mim é uma luta. Não tenho carro, não tenho moto, mas quero aprender a dirigir. E acho que estou aprendendo bem”, se diverte, endossando ainda mais as estatísticas de crescimento no número de motoristas.
Segundo dados do Denatran, em 2008 havia 45,1 milhões de motoristas registrados no País, 14,8 milhões do sexo feminino, o que significa 33% do total. Em 2004, 10,3 milhões de mulheres estavam habilitadas no País, um crescimento de 44% em quatro anos.


Matéria que será veiculada amanhã, 26 de junho de 2009.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

No recanto dos Paitra

“Às vezes é preciso encontrar pessoas como os Paitra para voltar a ter esperança.
O orgulho dos irmãos por aquela terra, pela casa que lentamente é melhorada, pelas quatro sacas de feijão que produziram não é uma coisa palpável, assim como a união e o amor que demonstraram. Simplicidade que transborda, que preenche mais que qualquer luxo.”

Regularização fundiária para o Planalto Norte
Secretário estipula que 70% das terras de Major Vieira estejam irregulares

Gracieli Polak
CANOINHAS/ MAJOR VIEIRA

Gente de sorriso fácil e muita disposição para trabalhar na pouca terra que possuem, os irmãos Silvano, Sandra e Rodrigo Paitra, agricultores da localidade de Colônia Santo Antônio, em Major Vieira, articulam o cultivo de diversas culturas em uma propriedade que para muitos não valeria tal esforço, de tão pequena. Moram com a mãe há 17 anos, na propriedade que o pai recebeu do antigo patrão. Com a morte do antigo dono e a perda dos bens, o terreno passou para as mãos de um banco e, agora, a família luta para conseguir documentar a propriedade da terra, argumentando usucapião.
No papel, a propriedade tem 23 litros de terra, mas, na prática, segundo os irmãos, não chega a tanto. Embora pequeno, o pedaço de chão rende. “Nós colhemos de tudo um pouco. Plantamos milho, feijão, batata doce, amendoim, repolho, cebola, aipim, abóbora e mais um monte de coisas. O que este chão é capaz de dar, nós plantamos”, explica Rodrigo, mostrando o pedacinho de terra que, segundo ele, estava preparando, à enxada, para plantar repolho. O irmão mais novo, assim como os outros, trabalha para outros agricultores e, nas folgas, se dedica à propriedade que, pelas mãos deles, aos poucos se desenvolve, com a diversidade que a pequena área exige.
Silvano explica com orgulho a evolução que a propriedade vive, sempre pelas mãos dos irmãos, que, em conjunto, até o poço da propriedade cavaram. “Quando nós chegamos aqui não tinha nada. Era um sertão. Destocamos tudo no braço, limpamos por conta”, revela Silvano, complementado por Sandra, que afirma que os irmãos nunca desistiram de cultivar no pequeno terreno, mesmo sem muitos recursos. Da união dos três com a mãe, os melhoramentos foram se tornando reais. Do lado da casa da família uma antena parabólica ocupa lugar de destaque no terreiro repleto de árvores frutíferas. “Faz três anos que a luz chegou aqui”, explica Antônia, a matriarca da família, entusiasmada com a tecnologia que chega, para ela, em ritmo rápido.
Com orgulho da terra que tem, mas sem a documentação, os Paitra hoje não têm acesso aos benefícios oferecidos aos agricultores familiares e estão à margem da agricultura comercial: plantam, de maneira consorciada, tudo o que é possível cultivar na propriedade. Situação compartilhada com outros agricultores, que além de ter pouca terra, não as tem regularizadas.

PROBLEMA LATENTE
Segundo o secretário da agricultura, meio-ambiente e fomento agropecuário de Major Vieira, Maurício Aristides Sobczak, não é difícil encontrar situações como a dos Paitra no município, porque cerca de 70% das propriedades rurais de Major Vieira hoje estão irregulares de alguma forma. Sobczak afirma que a estimativa é de que esta alta porcentagem seja motivada também pela inadequação das propriedades rurais ao Código Florestal Brasileiro, condição que, depois da adoção da legislação específica para Santa Catarina, poderia ser modificada. “É um problema sem precedentes, porque para regulamentar a terra o agricultor precisa averbar a reserva legal, o que inviabiliza, muitas vezes, a produção agrícola nas pequenas propriedades. Esta é uma realidade que poderia ser modificada com o Código aqui do Estado”, lamenta.
Independente da inadequação à Legislação Ambiental nacional, outras questões fazem com que as terras fiquem sem registro legal. Uma delas é a divisão, por meio de herança, de propriedades que antes pertenciam a um único dono, mas agora pertencem aos vários filhos. Ações em trâmite por uso capião, como a da família Paitra, representam uma parcela pequena da população agrícola, mas que, embora minoria deverá ser beneficiada pelo programa que agora toma corpo no Planalto Norte.

MDA APOSTA
De acordo com o delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Jurandi Gugel, a regularização e a aquisição de terras agricultáveis para os pequenos agricultores são ações que o Territórios da Cidadania desenvolverá na região. Segundo Gugel, esse é um passo importante, porque ao mesmo tempo que regulariza a situação do agricultor no campo, possibilita a obtenção de crédito rural, como o Pronaf, financiamento a juro baixo. Mas esta é apenas uma das ações que o programa começa a colocar em prática na região.
No Território do Planalto Norte, as primeiras reuniões para definir onde os recursos, que contabilizam R$ 116,6 milhões, começaram a ser realizadas na segunda-feira, 27. A consultora técnica da Agência de Desenvolvimento Regional Integrado do Planalto Norte Catarinense (ADR-PLAN), Francielle Cristina Gaertner, coordenadora do fórum deliberativo que media o Território do Planalto Norte, explica que a prioridade, neste primeiro momento, são ações destinadas ao melhoramento da infra-estrutura da região. “A gente discutiu, na primeira reunião, questões relacionadas ao Programa de Infra-Estrutura (Proinf) que, por enquanto, se destinam exclusivamente ao meio rural. O programa vai propiciar um salto significativo na qualidade da população da região”, afirma Francielle, que explica que as ações envolverão diversos setores e que, na área fundiária, imediatamente terá um projeto piloto implantado em seis municípios do território, inclusive em Major Vieira.
Para a agricultora Sandra, que tem esperança que devagar a situação da propriedade se resolva e que a produção no sítio da família cresça, esse é um grande passo. “Quando essa terra aqui for nossa de vez, vai ser ainda melhor. Trabalhando a gente consegue arrumar tudo”, acredita.

Matéria veiculada na sexta-feira, 8 de maio.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Viva a política!

"Sexta-feira corrida... No laço.
Todo mundo resolveu vir para Canoinhas e sobrou para mim. Político atrás de político, depois de horas de discurso e espera, tenho a minha exclusiva com o vice-governador. Bem exclusiva, aff. Sem mais comentários".

Pavan participa de convenção do PSDB em Canoinhas
Vice-governador aposta na tríplice aliança para 2010, mas quer seu nome na disputa pelo governo

Gracieli Polak
CANOINHAS


A sexta-feira, 24, foi dia de debate para o PSDB na região. A convenção regional do partido, que aconteceu na Associação Recreativa e Esportiva Procopiak (AREP) reuniu lideranças do partido de Canoinhas, Bela Vista do Toldo, Irineópolis e demais cidades da região com lideranças estaduais, como o Secretário de Estado da Educação, Paulo Bauer e o vice-governador, Leonel Pavan, que também cumpriu agenda em Rio Negrinho.
Em entrevista exclusiva para o CN, Pavan, que apareceu em segundo lugar nas pesquisas realizadas pelo Instituto Datafolha, divulgadas do domingo, 19, pelo jornal A Folha de São Paulo, para intenção de voto nas próximas eleições para governador do Estado é categórico ao falar sobre sua possível candidatura ao governo. “O desejo nosso, a nossa luta, é para que a tríplice aliança (PSDB, PMDB E DEM) aconteça de novo, a não ser que haja alguns interesses individuais. Nós queremos a tríplice aliança, mas queremos um candidato que tenha melhores condições de vitória, que seja altamente preparado e que possa dar continuidade a este governo que tem trazido bons resultados. Não quer dizer que tenha de ser meu nome: pode ser outro. Porém, nós, no momento, entendemos que o PSDB tem melhores condições, mas, até lá, é possível que surja um nome que consiga agrupar todos os pré-candidatos e manter a aliança”, explica.
De acordo com o vice-governador, a postura do PSDB de, neste momento, não lançar nenhum candidato para o governo preserva o desejo da tríplice aliança, em contraposição aos outros dois partidos, com candidatos já anunciados para a disputa. “O meu nome está sendo ventilado e requerido em todos os lugares aonde eu vou, porém eu tenho tido o cuidado de não me antecipar, de não colocar a carroça na frente dos bois. Não queremos fazer como o PMDB e o DEM, que já tem seus nomes, até mesmo porque alguém terá de ceder”, afirma.
PROCESSOS NO STJ
Os processos em julgamento no Superior Tribunal de Justiça contra o governador Luis Henrique da Silveira e também contra Pavan, segundo o vice-governador, embora haja otimismo em relação ao julgamento, preocupam. Ele explica que, na eleição passada era pré-candidato ao governo do Estado pelo PSDB e, também, senador da república e só foi candidato porque pode se aliar a Luis Henrique da Silveira, um nome, segundo ele, de lisura dentro da política. “As acusações não são da época em que eu era senador e ele governador. Me preocupa, porque se eu for afastado em função de um processo, perco a vaga de vice, o direito de ser candidato a governador no ano que vem e também a vaga no Senado. Estou preocupado, porém confiante, porque acredito na lisura total do Luis Henrique”, ressalta.

CANDIDATO DA REGIÃO
Durante a reunião, o Secretário Regional de Canoinhas, Edmilson Verka colocou seu nome à disposição do partido para a disputa de uma vaga na Assembleia Legislativa. Segundo o vice-governador, a questão não é simples e depende ainda de muita discussão, até mesmo porque nomes de peso da região também já colocaram os nomes na lista de possíveis candidatos. “O Verka, bem como o Adelmo (Alberti) são grandes nomes. Tanto um quanto outro mostram muita competência e têm total confiança do partido. Ainda poderão surgir novos nomes”, conclui.

Matéria veiculada hoje, quinta-feira, 30 de abril de 2009.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O que as mulheres querem?



Quem sabe a resposta para esta pergunta? Eu, Graci, nunca sei o que quero.

Dona-de-casa ou dona da casa? O que querem as mulheres hoje?

O CN vai em busca das respostas e encontra um novo perfil de mulher, diferente da geração passada, mas ainda igual em muitas aspirações

Gracieli Polak
CANOINHAS

Casar, ter filhos, cuidar da casa e do marido era o sonho de maioria das mulheres décadas atrás. Sonho concretizado por gerações que atualmente são mães e avós de jovens que hoje já não pensam a condição feminina preparada somente para ser “rainha do lar”, mas também não querem abdicar dos filhos, da família e das características historicamente femininas. Ninguém mais quer ser dona-de-casa, mas, o que querem as mulheres de hoje?
As jovens entrevistadas pelo CN Mulher para esta edição afirmam que, em meio a todas as dificuldades, o “meio termo” entre e o passado e o presente é o que todas buscam.

Paula Salvatti Mattos, Cláudia Chaves Conzatti, Mauren Lavina Godoy e Sueli de Lima se reúnem todos os finais de semana, depois de uma semana exaustiva trabalhando como professoras em escolas da rede pública de ensino e, em comum, além do curso superior, discutem questões ligadas à administração da casa ou as peripécias dos filhos. Profissionais, mães ou esposas enfrentam jornadas múltiplas e se dizem realizadas. Ou quase: ainda falta um pouquinho.

PROFISSÃO: MATERNIDADE
Paula tem 28 anos, é casada há cinco, mas ainda não tem filhos. Formada em Relações Públicas, afirma não ter encontrado espaço para si no mercado de trabalho e, no sonho de ser professora, encontrou motivação para investir na segunda faculdade. Desde o começo do ano letivo, trabalha dando aulas de artes para crianças e, mesmo há pouco tempo no ramo, afirma estar se realizando na profissão. “Na arte eu me encontrei como profissional mulher, porque hoje que eu estou dentro de uma sala de aula todos os dias eu percebo que é aquilo o que realmente quero. É o meu sonho, o meu ideal, poder passar para meus alunos aquilo que estou aprendendo. Para mim, é mais do que trabalho, é aquilo que a gente espera alcançar”, afirma. Para Paula, casamento e profissão caminham juntos e, depois de acertadas estas questões, o filho deve vir para coroar isso tudo. “Filho é amor incondicional, transcende qualquer sentimento. Acho que toda mulher busca isso. Eu me sinto preparada para isso, quero muito, mas agora não posso”, explica.
Cláudia, aos 34 anos, também é casada, mas, diferentemente de Paula, tem dois filhos ainda crianças. Formada em História, a professora se equilibra no salto para conciliar as múltiplas jornadas, mas acredita que é a fusão entre as diferentes atividades que faz com que ela se realize como mulher. “É preciso muito equilíbrio entre o trabalho e relacionamento em casa, embora não seja fácil. E tem de ter uma paciência que eu não sei de onde tiro, porque são 40 alunos a cada 40 minutos na escola, depois são afazeres da casa, é preciso dar apoio ao marido, cuidar dos filhos...Você não pode chegar em casa estressada. Não dá. Até mesmo porque você, a mulher, não tem, assim, um trabalho: tem um trabalhinho”, se diverte Cláudia.
A professora, mãe, explica que a maternidade é capaz de nortear a vida das mulheres, porque, a partir do nascimento dos filhos, as concepções sobre o mundo e a motivação para viver passa a ser o futuro deles. Hoje, sua realização depende dos filhos e a volta aos estudos é um fator considerável para isso, porque estimula as crianças a aprender cada vez mais. “Meu filho me pediu, nas férias, para ir a um museu. Ele vê quadros do Van Gogh e demonstra interesse, se interessa pelo universo que eu mostro. Só isso já faz valer a pena”, revela.
Mauren, aos 24 anos, é mãe de uma criança de dois e hoje também coloca a filha como prioridade central na sua vida, antes mesmo da estabilidade financeira. Para ela, a maternidade vem em primeiro lugar, embora trabalho e marido sejam fundamentais para que ela se realize. “Eu, como já tenho filho e sou casada, busco realização profissional. Acho que isso é fundamental hoje, essa independência financeira. Isso dá liberdade, mas ao mesmo tempo torna a rotina complicada, faz faltar tempo, mesmo o trabalho sendo fundamental. A rotina dentro de uma sala de aula é estressante e quem vê de fora não entende isso, não consegue dar o real valor, mas a gente insiste, vai em frente. Trabalhar é bom, mas a felicidade não é só isso”, explica.
“Às vezes é preciso analisar até que ponto vale essa correria. Bate a culpa por não estar sendo uma mãe presente, uma esposa atenciosa... É complicado”, revela Cláudia. Questionadas se gostariam de voltar no tempo ou abrir mão do trabalho, a resposta é negativa, em coro. “Dá vontade de voltar no tempo, mas só por um pouquinho. Eu não suportaria ser só a dona-de-casa. De jeito nenhum a gente quer só o que tinha antes”, ressalta Cláudia.


AMOR?
Trabalhar é preciso, ser mãe é necessário. Casar é opcional?
Não, casamento ainda é prioridade, de acordo com as entrevistadas. “Se hoje eu fosse planejar de novo o começo da minha vida, eu queria ter minha estabilidade financeira, depois os filhos e depois o marido”, revela Cláudia. “No meu caso seria a estabilidade, o marido e depois o filho”, rebate Paula.
Sueli, a mais jovem das entrevistadas, aos 21 anos inicia sua carreira profissional. Mãe há nove meses, afirma ter mudado suas concepções de mundo, à medida que o filho foi se tornando uma realidade em sua vida mas ainda sente falta de algo. A jovem, solteira, acredita que encontrar um companheiro para dividir as responsabilidades é absolutamente fundamental. “Mas tudo ao seu tempo. Agora eu não quero isso, mas espero casar, ter um companheiro para toda a vida assim que outras questões sejam resolvidas, assim que eu tiver liberdade financeira, por exemplo”, revela.
Segundo as entrevistadas, a questão fundamental que norteia os pensamentos femininos é a conquista da liberdade e as maneiras de administrá-las. “O que as mulheres querem? Elas querem tudo aquilo que tinham antes e um pouco mais”, afirma Mauren. E, muitas vezes, o mesmo de sempre. “Toda mulher quer viver um grande amor, um verdadeiro amor, independente de ter espaço no mercado de trabalho e poder ser uma profissional de sucesso. A gente quer casar, quer ter filho, isso ainda é fundamental”, conclui Paula, apoiada pelas colegas.

Matéria veiculada na sexta-feira, 24 de abril de 2009.

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sexta-feira, 17 de abril de 2009

"A senhora é solteirona?"




“Mais uma matéria clássica sobre aniversário de cidade. Sempre a mesma coisa, o mesmo tédio.

Nem sempre dá para inovar, quase nunca dá para curtir. Em Bela Vista, então...

Converso com o senhor de quase noventa anos de idade até que o papo flui e ele, que já está na quarta esposa, pergunta se eu sou “solteirona”.‘Você tem o quê, uns 28 anos?’

Olha para mim, me envelhece seis anos e me faz pensar, urgentemente, na compra de renew. Há coisas que só na insólita Bela Vista... só lá”


Muito mais de 15 anos de história de BVT

Mais jovem das cidades da região comemora emancipação

Gracieli Polak
BELA VISTA DO TOLDO

Colonizada por italianos, alemães, poloneses, portugueses e ucranianos, a mais jovem das cidades do Planalto Norte completou, ontem, 15 anos de emancipação política e administrativa. Repleta de bonitas paisagens, Bela Vista do Toldo aos poucos se desenvolve e mantém na agricultura sua principal vocação, a mesma dos primórdios de sua colonização.
Em um casarão antigo, com vigor físico que a idade não conseguiu apagar, um dos mais antigos moradores fala sobre a vila que habita desde criança e a cidade que agora cresce e traz, cada vez mais, conforto para seus moradores. Joaquim Angelo Pereira, prestes a completar 90 anos de idade (88 morando em Bela Vista do Toldo) cresceu junto com a pequena região e, comerciante, acompanhou de perto a evolução do lugar em que fixou raízes.
Pereira conta que, quando veio com os pais, de Joinville, para morar na então localidade chamada de Toldo, que na época tinha aproximadamente oito casas e a “bodeguinha” adquirida pelo pai, tudo era muito longe e a vista era tomada pelas araucárias, hoje não tão abundantes. “Era um lugar bom para se morar. Tinha muita erva-mate, muita riqueza, mas tudo era muito longe aqui”, recorda. Crescendo em meio às riquezas naturais e às limitações, o aposentado avalia que tudo hoje está mais fácil, ao alcance de todo mundo. Sua companheira, Tereza Janicoviski Tadra, concorda com ele.
Tereza, que morava no interior do município, hoje vê com bons olhos o progresso que toma conta da cidade. As obras do lado da casa do casal, segundo ela, são reflexos do crescimento da cidade que, na opinião do casal, deveria apresentar mais alternativas de desenvolvimento para os jovens. “Aqui não tem indústria nenhuma. Deveria ter para que muito mais gente ficasse aqui, não fosse embora”, defende Tereza.

QUE BELA VISTA!
Dona de um nome peculiar, Bela Vista do Toldo registra em sua história oficial a versão de que a denominação surgiu de exclamações de visitantes que passaram pela região e presenciavam a bonita visão das colinas com toldos. Segundo Pereira, foi Estanislau Schumann quem determinou que a localidade de Toldo, ao ser transformada em distrito, passasse a se chamar Bela Vista do Toldo. “Ele mandava aqui, era uma pessoa muito influente. Ele resolveu que aqui se chamaria Bela Vista do Toldo por causa da visão que tinha da casa dele, bem no alto, de onde ele via muito pinheiro. Na hora de definir um nome ele disse: ‘Vai ser Bela Vista do Toldo’, e ficou esse mesmo”, relembra.

As comemorações pelo aniversário do município acontecem até domingo, quando a Festa da Colheita é oficialmente encerrada.

- Matéria veiculada hoje, sexta-feira, 17 de abril de 2009.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Nova praga no campo?



"13h10min de uma sexta-feira alucinadamente quente.
Graci, dois agrônomos estão vindo aí para fazer uma entrevista sobre uma doença aí...
'Que doença? Qual o nome? Em qual cultura?'
'Ah! sei lá. Disseram que uma doença bem séria. Tão chegando. Ó, chegaram.'

Sim, perdida, parti do princípio e revelei minha ignorância. 'Escleroquê?? Então escreve certinho. Isso, brigada!'

Calça jeans de novo, blusinha meio out, sandália verde salto dez tipo elemento surpresa usada somente em dias quando não há a menor possibilidade de ir cobrir agricultura, composição descomposta. Muito sol, pouco protetor, muita empolgação e um elemento estranho de sandália verde na plantação de feijão".


Uma nova vilã aparece nas lavouras da região
Murcha da sclerotínia aparece em quase totalidade agrícola do Planalto Norte

Gracieli Polak
CANOINHAS

Esqueça da ferrugem e de todas as outras doenças que podem ocasionar perdas no campo. Nenhuma é mais preocupante do que uma nova praga que tem se alastrado pela região e a cada período produtivo deixado mais evidências de que se alastrará ainda mais, segundo agricultores e agrônomos que atuam na região.
A murcha da sclerotínia, ou simplesmente mofo branco, de acordo com o engenheiro agrônomo Vagner José Naves dos Santos, é uma doença que antigamente acontecia no Cerrado, mas que agora se alastra rapidamente pelas lavouras da região Sul do País e se torna um problema pertinente também no interior do Planalto Norte. “É um problema real no campo, que do ano passado para cá, só tem aumentado na região. Hoje ela pode comprometer de 5 a 100% da lavoura de várias culturas, como o feijão e a soja, plantada em larga escala ”, alerta Santos. Segundo o engenheiro agrônomo, a doença, causada por um fungo, acontece durante o período de floração e é extremamente agressiva à planta, que tem seu desenvolvimento restrito e, consequentemente, sua produção reduzida. “Hoje não tem doença fúngica que cause mais perda que a sclerotínia. O dano é muito maior do que o causado pela ferrugem, por exemplo. Na ferrugem você tem pré-determinado o tratamento: começou a florar, você faz uma aplicação e vinte dias, faz uma nova aplicação. Com a sclerotínia não é assim. Você precisa ter um conjunto de ações, senão você não controla. Ela causa muito mais dano”, alerta.
O agricultor Ângelo Kohler, da localidade da Fartura, concorda. De acordo com Kohler, o mofo branco hoje é a doença mais preocupante para as lavouras de soja e feijão, culturas exploradas em sua propriedade. Nas plantações do agricultor, o fungo apareceu na safra passada, em média escala, mas muito tarde para que fosse realizado o tratamento da lavoura. Neste ano, na época em que a doença poderia surgir, Kohler começou a tratar a plantação, diminuindo a incidência da doença. “Eu hoje vejo que a sclerotínia é um problema maior que a ferrugem. Com certeza, o maior problema no campo é o mofo branco, então vale a pena investir no controle da praga”, afirma. Para o agricultor, que investe na sua produção agropecuária, o cuidado é justificado. No inverno, as áreas usadas para agricultura viram pasto para o gado, o que ocasiona compactação do solo, um dos agravantes para a expansão da doença.

TRATAMENTO COMPLEXO
Escolha de variedades menos suscetíveis à doença, manejo de solo, rotação de culturas e tratamento das sementes utilizadas são algumas das ações que podem amenizar o avanço da doença, aliado ao uso de fungicidas específicos para o combate. O fungo responsável pela proliferação do mofo branco se aloja na planta na forma de sclerotíneos, chamados popularmente de “bostinhas de rato”, devido à semelhança com as fezes do roedor. “É essa “bostinha de rato” que fica no solo por até doze anos. Ela faz com que a doença penetre na terra e seja ativada sempre que as condições forem favoráveis”, explica Santos.
O mofo branco chegou à região através de sementes contaminadas e hoje está presente na quase totalidade dos solos agricultáveis da região. “Se as medidas corretas não forem adotadas pelos agricultores, o mofo branco vai se espalhar cada vez mais. Todos os solos daqui estão contaminados, então o pessoal sabe que vai ter a doença, como teve no ano passado e neste ano. No ano que vem vai ter de novo. O fungo pode estar lá, mas se você tratar, a doença vai ficar paralisada”, defende. O custo do manejo de fungicidas para combater à praga hoje é inferior a 5% da produção média por área plantada e, além de prevenir a perda da produção na decorrente safra, minimiza a expansão do fungo.

- Matéria eiculda na sexta-feira, 19 de março de 2009.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Debaixo da luz vermelha

“A ideia surgiu na sexta-feira, durante a reunião de pauta.
Não foi minha.
Coube a mim, então, descobrir as histórias encobertas pela luzes vermelhas, pelas doses a seco de conhaque, pelo pudor que a sociedade trata a profissão.
Calça jeans skinny, blusa- uniforme, sapatilha e não um salto, unhas vermelhas e batom incolor acompanhavam meu receio e, por que não, meu medo de colocar o dedo na ferida. Acontece.
Crachá no peito, bloco e caneta na mão, disposição no bolso. E, como diria a bruxa do Pica-Pau: 'E lá vamos nós!'".


A VOLTA DAS CASAS DA 'LUZ VERMELHA'

Embora repreendidos pela Polícia, pontos de prostituição nunca foram extintos na região, mas dez anos depois da proibição estão cada vez mais explícitos

Gracieli Polak
CANOINHAS/TRÊS BARRAS

Sol forte e clima abafado, poeira na rua que ladeia um dos mais famosos “bares de mulheres” de Canoinhas. Lá dentro, o clima é fresco e o ambiente não condiz com o que a imaginação popular credencia a este tipo de estabelecimento. Aberto durante o dia, as portas da ‘empresa’, como se refere sua dona ao bar, ficam abertas para quem quiser tomar uma bebida e, eventualmente, arrumar companhia.
De blusa amarelo ouro e maquiagem discreta, com um traço fininho do delineador azul metálico nos olhos, Paula* chega ainda com os cabelos molhados, pronta para mais um dia de trabalho. Silenciosa, a jovem mede as palavras e se revela minimamente, aos poucos. Falar sobre o passado e a forma como chegou à prostituição não parece ser fácil. “Não gosto de falar sobre isso”, diz e se cala, sem abrir espaço para uma nova pergunta.
Arlete*, a proprietária do local, no entanto, fala, defende e explica a prostituição. Vinda de família muito pobre, então com 18 anos de idade, ela foi expulsa de casa pelo pai, depois do nascimento da filha enquanto era solteira. Sem rumo, a jovem saiu de casa e, graças à ajuda da madrasta, pode deixar o bebê, então com 40 dias de idade. Voltou dez anos depois para buscá-la, casada e com outros filhos. Antes de encontrar o homem com quem se casou, Arlete “fez a vida”, trabalhou em muitos lugares, se tornou alvo de preconceito e discriminação. Anos mais tarde, separada do marido, voltou a trabalhar na noite, desta vez gerenciando estabelecimentos do gênero. No final de 1999 e começo de 2000, quando os meretrícios e boates da região foram fechados ela comandava uma casa de shows em Três Barras. Com a proibição, comprou um bar no Campo d’Água Verde que mantém até hoje. “Com alvará da prefeitura, regulamentado, tudo certo como determina a Lei. Todo ano pago meus impostos, não devo nada para ninguém”, explica.

FIM DAS BOATES?

Arlete conta que, no final de 1999, as áreas consideradas como “zonas” foram fechadas na cidade. O então delegado regional, Osmar Amorim, de acordo com ela, foi rígido o suficiente para acabar com as boates na cidade e fechar todos os estabelecimentos. “Ele proibiu qualquer tipo de boate em Três Barras e Canoinhas. As casas explícitas foram fechadas e os bares, lugares mais calmos e com atendimento até às 22 horas foram fiscalizados. Se você não cumprisse o que ele determinava, o estabelecimento era fechado”, conta.
De acordo com os arquivos do CN, em 1.º de fevereiro de 2000, o comissário de polícia Luiz Rosa Peres fechou as portas do estabelecimento localizado no KM 6 em Três Barras, acabando com as chamadas “zonas” que se perpetuavam, prometendo mais ações contra os estabelecimentos, principalmente, no bairro São Cristóvão. A decisão não foi bem acolhida pelos donos de boates, que ameaçaram levar as meninas para fazer ponto na rua. As prostitutas que trabalhavam nesses estabelecimentos defendiam o direito de trabalhar nos locais específicos, mas, com o fechamento, de acordo com o CN, algumas planejavam ir embora. Segundo Arlete, a maioria ficou por aqui mesmo, fazendo ponto na rua ou se deslocando para os bares que se espalharam por Canoinhas e Três Barras e que, de acordo com ela, somente no Campo d’Água Verde, são cinco.
Mas, quem passa pela SC-280 iluminada por luzes vermelhas perto do trevo que dá acesso à cidade, nota que a era das boates explícitas em Canoinhas está voltando.

NOITE QUENTE FEITA COM ROSTOS TRISTES

A partir das 16 horas, as boates localizadas na Pedra Branca abrem as portas. Com as luzes vermelhas ainda apagadas, o ambiente é calmo e a música de fundo é a tocada por uma das rádios locais. Ambiente pequeno, um palco improvisado e uma juke box compõem o cenário, que contrasta com a imagem jovial, um tanto infantil, da menina que atende ao chamado. Sem maquiagem e com uma roupa juvenil, a moça mostra simpatia, mas não quer falar sobre os motivos que a levaram para os caminhos da prostituição. Sem revelar nome, idade ou qualquer outro detalhe, seus olhos marejam ao dizer que prefere não falar sobre sua vida. Situação compartilhada com outras mulheres, como Paula.
Para Arlete, que hoje não tem pudor de falar sobre sua vida e sobre os motivos que a levaram a prostituição, tal receio se justifica pelo histórico comum de violência e pobreza enfrentado pelas meninas. “A maioria veio de famílias sem nenhuma decência, de lares desestruturados, de ambientes de muita pobreza. Poder alimentar a família, garantir mais conforto para os irmãos, só isso é uma vitória”, revela. “E é nas boates que elas conseguem isso. Nas ruas, prostituta vira problema social”, reitera.

“MELHOR AQUI DO QUE NAS RUAS”

De acordo com a ex-prostituta, veterana e profunda conhecedora do assunto, problema maior, “muito maior”, segundo ela, é a prostituição nas ruas. “As meninas que trabalham aqui no meu bar são orientadas para usar camisinha, fazem exames de sangue periodicamente, me informam quando saem com algum cliente. Têm muito mais segurança. E a menina que está na rua? Muitas vezes é uma criança, que não sabe nem como usar o preservativo, não tem noção dos riscos que está correndo. Fica muito mais exposta, sofre mais violência”, afirma.
“A prostituição existe aqui e em qualquer outro lugar. É a profissão mais antiga do mundo. A sociedade recrimina, coloca à margem, mas foi a maneira que essas meninas conseguiram de se virar na vida. Mas, e se alguém resolver sair dessa vida? As duas meninas que trabalham comigo limpam a casa, lavam e passam minha roupa e fazem a comida. Trabalho impecável. Você daria emprego para uma p...?”, pergunta.

EXPLORAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO É CRIME

De acordo com o comissário da Polícia Civil de Três Barras, Luiz Rosa Peres, uma das peças fundamentais para o fechamento das áreas de prostituição em 1999, a Lei aplicada na década passada ainda é válida. O artigo 229 do Código Penal Brasileiro é claro e pune com rigidez quem promove ou se beneficia da prostituição: dois a cinco anos de prisão. Segundo Peres, três situações ligadas ao assunto são puníveis pela Lei brasileira: promoção de local para prostituição, favorecimento à prostituição e aliciamento de mulheres.
O comissário afirma que o ressurgimento das ‘casas da luz vermelha’ na cidade é ilegal, porque não existe maneira de legalizar as boates simplesmente porque não há alvará para que elas possam funcionar com esta característica. “Na época do fechamento de todos os estabelecimentos do gênero na região começaram a surgir os bares, que até um determinado tempo seguiram as determinações judiciais, mas, aos poucos e discretamente, voltaram a promover a prostituição. Somente na chamada rua Velha, na saída de Canoinhas, em Três Barras, contei mais de 19 estabelecimentos. Os ‘caras’ abrem os bares e, com o tempo, vão levando mulheres para trabalhar lá”.
De acordo com o delegado, o mascaramento da atividade é uma condição que atrapalha a fiscalização da Polícia, porque, para que o indiciamento seja realizado é necessária uma investigação que comprove as atividades irregulares, fato que, devido à quantidade dos estabelecimentos, se torna inviável. “Este é um caso parecido com o do jogo do bicho. Três Barras tem. Canoinhas tem. Mafra tem. No Brasil inteiro existe, em todo lugar. Esses lugares eram chamados de ‘casas de tolerância’ justamente por causa da tolerância da polícia em relação à sua existência. É praticamente impossível que acabem”, declara. Para o Superior Tribunal de Justiça (STF), que na segunda-feira, 9, aumentou as penas ligadas ao crime, o fato de haver tolerância ou indiferença na repressão criminal não significa que a conduta não está tipificada no Código Penal e que não seja passível da pena prevista.
O delegado regional Getúlio Scherer, responsável pela concessão de alvarás na Comarca, não foi encontrado pela reportagem.

“NINGUÉM QUER SER P...”

A prostituição, em si, não é considerada crime, tanto nos bares, casas noturnas ou nas ruas. Segundo Peres, o direito de ir e vir, garantido pela Constituição Brasileira permite que as mulheres se exponham e se prostituam. “Se a menina está fazendo ‘ponto’ na rua não há o que possa ser feito. Mesmo nas boates, elas não são criminosas. Nisto você não pode interferir. Se ela for menor de idade, aí sim é outra situação e o Conselho Tutelar pode ser contatado para que providências sejam tomadas”, explica.
Para quem trabalha na noite, a opção por ficar ao abrigo de uma casa noturna significa melhores condições de trabalho e, dadas as limitações, certo anonimato no exercício da profissão. “Ninguém que ser p... Pouquíssimas são as mulheres que entram nessa vida por opção própria. Elas dão prazer enquanto, na verdade, não sentem prazer nenhum. A satisfação delas está em poder comprar um chinelo novo, um pacote de fraldas ou a comida dos filhos. Para muitas mulheres, prostituição é sinônimo de sobrevivência. Isso não é vida fácil. Não é nada fácil ir para cama com alguém que você nem conhece, sem ter, ao menos, a chance de dizer não”, defende Arlete.

*Os nomes das profissionais foram trocados por fictícios a pedido das entrevistadas

- Matéria veiculada na sexta-feira, 20 de março de 2009.