sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Mar de soja de um lado, de outro também

"Sim, eu gosto mesmo é de escrever sobre agricultura. De andar horas e horas por estradas de chão, aperta mãos sujas de graxa ou de terra, de conversar olhando nos olhos e fazer minha anotações com uma cuia de mate na mão esquerda.

Mate bom, aliás, é a especialidade dos Perciak".

Para a safra 2009/2010 opção é pela soja

Com rentabilidade no último ciclo, área plantada com leguminosa cresce

Gracieli Polak
CANOINHAS

Com o tempo bom e grande parte das sementes já no solo, a paisagem começa a mudar no campo. Aos poucos a safra 2009/2010 começa a ser “vista” no interior da região, mas refletindo o que acontece no restante das regiões produtivas do País, o predomínio, neste ciclo, será da soja. Mais de 22 milhões de hectares serão cultivados com a leguminosa que, com previsão climática boa para os próximos três meses, deverá superar recorde e atingir produtividade superior a 63 milhões de toneladas, quase a metade da produção total de grãos brasileira, estimada em 139 milhões de toneladas até o fim do ciclo, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Na região, a julgar pelo comportamento dos agricultores, a situação se repete. Na manhã de quarta-feira, 11, os irmãos Sinésio, Luís César e Vitalino Perciak, da localidade do Salto d’Água Verde, faziam reparos nos maquinários enquanto a umidade trazida pela chuva do dia anterior não permitia o plantio de mais uma área. Para eles, segundo Sinésio, a alternativa é uma só: a soja.
Com a oleaginosa os irmãos pretendem ocupar cerca de 50 hectares de chão. Para não ficarem somente na soja, três hectares foram plantados com feijão, mas o volume nem chega a fazer sombra diante da principal cultura, que na propriedade deles não disputa espaço com o milho, caso de produtores maiores. “Para a gente não compensa, porque nós plantamos soja porque produz. O preço pode até não ser tão alto, mas em relação aos custos, é vantajoso”, argumenta Luís. A situação é semelhante a de Clemente Chuppel, que para esta safra, também se apóia nesse argumento para aumentar a área de soja. “O milho não tem compensado, por isto diminui a área”, relata.
Segundo Vitalino Perciak, o risco do milho é muito alto para compensar o preço pago hoje – cerca de R$ 18 a saca, enquanto a saca de soja valia, na cotação de ontem para Canoinhas, R$ 42. A lógica, no entanto, pode ser revertida.

MILHO DEVE VALORIZAR
Com a aposta na soja, a área plantada com milho na região deve ser menor. O resultado da safra menor do cereal deve gerar no mercado nacional, segundo especialistas no setor, uma valorização no preço do milho. Apostando nisso o agricultor Flávio Francisco Antonovicz manteve a área plantada com milho no ciclo anterior, mesmo enfrentando resistência dos filhos. “Aumentou um pouco a área da soja, mas eu preferi preservar uma parte com milho”, afirma. Ainda assim, dos 382 alqueires cultivados, 120 vão para milho, 20 para feijão e o restante, para a soja, revela o agricultor, que espera por uma safra farta, devido à previsão de chuva e umidade em níveis satisfatórios para o período de cultivo.

Novas fontes de biodiesel ficam nos experimentos

Lançado há quase cinco anos, o programa nacional de biodiesel como incentivo à agricultura familiar ainda não mostrou reflexos positivos para o setor. Quem comprova isso são os dados apresentados pelo Ministério de Minas e Energia. Segundo o órgão, em julho, a soja foi responsável por 78,7% de toda a produção de biodiesel no País, enquanto o sebo bovino foi a segunda matéria-prima mais utilizada (14,6%) e o óleo de algodão, a terceira (4,1%). De todo biodiesel produzido no Brasil, apenas 2,6% veio de outras fontes de outras fontes, como mamona, pinhão manso e girassol.
Para os Persiaki, que há dois anos tentaram o cultivo do girassol e foram visitados pela reportagem do CN, o maior desafio na cultura foi conseguir lucro na hora da comercialização, porque, segundo eles, na lavoura o produto rendeu. Para um grupo de agricultores que tentou o cultivo de pinhão manso em Canoinhas e Bela Vista do Toldo, o clima foi o entrave. “A ideia era muito boa, inclusive com resultados no campo experimental, mas a planta não resistiu à geada”, conta o vereador João Grein (PT), que mediou o plantio por meio do Sindicato dos Agricultores Familiares (Sintraf). As experiências na região e no restante do País revelam que o que falta para o projeto deslanchar ainda é a pesquisa.
De acordo o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Gilcimar Adriano Vogt, o programa enfrenta dificuldades na região por diversos fatores, um deles bastante relevante, a pouca lucratividade. Outros pontos também dificultam em culturas como o girassol, porque, segundo ele, além de ainda não haver o costume – e, portanto o manejo adequado – das plantas, a rentabilidade é comprometida. “Para a região somente as culturas de inverno são atrativas e, ainda sim, é preciso bastante estudo”, defende.

Matéria veiculada hoje, 13 de novembro de 2009.