quinta-feira, 30 de abril de 2009

Viva a política!

"Sexta-feira corrida... No laço.
Todo mundo resolveu vir para Canoinhas e sobrou para mim. Político atrás de político, depois de horas de discurso e espera, tenho a minha exclusiva com o vice-governador. Bem exclusiva, aff. Sem mais comentários".

Pavan participa de convenção do PSDB em Canoinhas
Vice-governador aposta na tríplice aliança para 2010, mas quer seu nome na disputa pelo governo

Gracieli Polak
CANOINHAS


A sexta-feira, 24, foi dia de debate para o PSDB na região. A convenção regional do partido, que aconteceu na Associação Recreativa e Esportiva Procopiak (AREP) reuniu lideranças do partido de Canoinhas, Bela Vista do Toldo, Irineópolis e demais cidades da região com lideranças estaduais, como o Secretário de Estado da Educação, Paulo Bauer e o vice-governador, Leonel Pavan, que também cumpriu agenda em Rio Negrinho.
Em entrevista exclusiva para o CN, Pavan, que apareceu em segundo lugar nas pesquisas realizadas pelo Instituto Datafolha, divulgadas do domingo, 19, pelo jornal A Folha de São Paulo, para intenção de voto nas próximas eleições para governador do Estado é categórico ao falar sobre sua possível candidatura ao governo. “O desejo nosso, a nossa luta, é para que a tríplice aliança (PSDB, PMDB E DEM) aconteça de novo, a não ser que haja alguns interesses individuais. Nós queremos a tríplice aliança, mas queremos um candidato que tenha melhores condições de vitória, que seja altamente preparado e que possa dar continuidade a este governo que tem trazido bons resultados. Não quer dizer que tenha de ser meu nome: pode ser outro. Porém, nós, no momento, entendemos que o PSDB tem melhores condições, mas, até lá, é possível que surja um nome que consiga agrupar todos os pré-candidatos e manter a aliança”, explica.
De acordo com o vice-governador, a postura do PSDB de, neste momento, não lançar nenhum candidato para o governo preserva o desejo da tríplice aliança, em contraposição aos outros dois partidos, com candidatos já anunciados para a disputa. “O meu nome está sendo ventilado e requerido em todos os lugares aonde eu vou, porém eu tenho tido o cuidado de não me antecipar, de não colocar a carroça na frente dos bois. Não queremos fazer como o PMDB e o DEM, que já tem seus nomes, até mesmo porque alguém terá de ceder”, afirma.
PROCESSOS NO STJ
Os processos em julgamento no Superior Tribunal de Justiça contra o governador Luis Henrique da Silveira e também contra Pavan, segundo o vice-governador, embora haja otimismo em relação ao julgamento, preocupam. Ele explica que, na eleição passada era pré-candidato ao governo do Estado pelo PSDB e, também, senador da república e só foi candidato porque pode se aliar a Luis Henrique da Silveira, um nome, segundo ele, de lisura dentro da política. “As acusações não são da época em que eu era senador e ele governador. Me preocupa, porque se eu for afastado em função de um processo, perco a vaga de vice, o direito de ser candidato a governador no ano que vem e também a vaga no Senado. Estou preocupado, porém confiante, porque acredito na lisura total do Luis Henrique”, ressalta.

CANDIDATO DA REGIÃO
Durante a reunião, o Secretário Regional de Canoinhas, Edmilson Verka colocou seu nome à disposição do partido para a disputa de uma vaga na Assembleia Legislativa. Segundo o vice-governador, a questão não é simples e depende ainda de muita discussão, até mesmo porque nomes de peso da região também já colocaram os nomes na lista de possíveis candidatos. “O Verka, bem como o Adelmo (Alberti) são grandes nomes. Tanto um quanto outro mostram muita competência e têm total confiança do partido. Ainda poderão surgir novos nomes”, conclui.

Matéria veiculada hoje, quinta-feira, 30 de abril de 2009.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O que as mulheres querem?



Quem sabe a resposta para esta pergunta? Eu, Graci, nunca sei o que quero.

Dona-de-casa ou dona da casa? O que querem as mulheres hoje?

O CN vai em busca das respostas e encontra um novo perfil de mulher, diferente da geração passada, mas ainda igual em muitas aspirações

Gracieli Polak
CANOINHAS

Casar, ter filhos, cuidar da casa e do marido era o sonho de maioria das mulheres décadas atrás. Sonho concretizado por gerações que atualmente são mães e avós de jovens que hoje já não pensam a condição feminina preparada somente para ser “rainha do lar”, mas também não querem abdicar dos filhos, da família e das características historicamente femininas. Ninguém mais quer ser dona-de-casa, mas, o que querem as mulheres de hoje?
As jovens entrevistadas pelo CN Mulher para esta edição afirmam que, em meio a todas as dificuldades, o “meio termo” entre e o passado e o presente é o que todas buscam.

Paula Salvatti Mattos, Cláudia Chaves Conzatti, Mauren Lavina Godoy e Sueli de Lima se reúnem todos os finais de semana, depois de uma semana exaustiva trabalhando como professoras em escolas da rede pública de ensino e, em comum, além do curso superior, discutem questões ligadas à administração da casa ou as peripécias dos filhos. Profissionais, mães ou esposas enfrentam jornadas múltiplas e se dizem realizadas. Ou quase: ainda falta um pouquinho.

PROFISSÃO: MATERNIDADE
Paula tem 28 anos, é casada há cinco, mas ainda não tem filhos. Formada em Relações Públicas, afirma não ter encontrado espaço para si no mercado de trabalho e, no sonho de ser professora, encontrou motivação para investir na segunda faculdade. Desde o começo do ano letivo, trabalha dando aulas de artes para crianças e, mesmo há pouco tempo no ramo, afirma estar se realizando na profissão. “Na arte eu me encontrei como profissional mulher, porque hoje que eu estou dentro de uma sala de aula todos os dias eu percebo que é aquilo o que realmente quero. É o meu sonho, o meu ideal, poder passar para meus alunos aquilo que estou aprendendo. Para mim, é mais do que trabalho, é aquilo que a gente espera alcançar”, afirma. Para Paula, casamento e profissão caminham juntos e, depois de acertadas estas questões, o filho deve vir para coroar isso tudo. “Filho é amor incondicional, transcende qualquer sentimento. Acho que toda mulher busca isso. Eu me sinto preparada para isso, quero muito, mas agora não posso”, explica.
Cláudia, aos 34 anos, também é casada, mas, diferentemente de Paula, tem dois filhos ainda crianças. Formada em História, a professora se equilibra no salto para conciliar as múltiplas jornadas, mas acredita que é a fusão entre as diferentes atividades que faz com que ela se realize como mulher. “É preciso muito equilíbrio entre o trabalho e relacionamento em casa, embora não seja fácil. E tem de ter uma paciência que eu não sei de onde tiro, porque são 40 alunos a cada 40 minutos na escola, depois são afazeres da casa, é preciso dar apoio ao marido, cuidar dos filhos...Você não pode chegar em casa estressada. Não dá. Até mesmo porque você, a mulher, não tem, assim, um trabalho: tem um trabalhinho”, se diverte Cláudia.
A professora, mãe, explica que a maternidade é capaz de nortear a vida das mulheres, porque, a partir do nascimento dos filhos, as concepções sobre o mundo e a motivação para viver passa a ser o futuro deles. Hoje, sua realização depende dos filhos e a volta aos estudos é um fator considerável para isso, porque estimula as crianças a aprender cada vez mais. “Meu filho me pediu, nas férias, para ir a um museu. Ele vê quadros do Van Gogh e demonstra interesse, se interessa pelo universo que eu mostro. Só isso já faz valer a pena”, revela.
Mauren, aos 24 anos, é mãe de uma criança de dois e hoje também coloca a filha como prioridade central na sua vida, antes mesmo da estabilidade financeira. Para ela, a maternidade vem em primeiro lugar, embora trabalho e marido sejam fundamentais para que ela se realize. “Eu, como já tenho filho e sou casada, busco realização profissional. Acho que isso é fundamental hoje, essa independência financeira. Isso dá liberdade, mas ao mesmo tempo torna a rotina complicada, faz faltar tempo, mesmo o trabalho sendo fundamental. A rotina dentro de uma sala de aula é estressante e quem vê de fora não entende isso, não consegue dar o real valor, mas a gente insiste, vai em frente. Trabalhar é bom, mas a felicidade não é só isso”, explica.
“Às vezes é preciso analisar até que ponto vale essa correria. Bate a culpa por não estar sendo uma mãe presente, uma esposa atenciosa... É complicado”, revela Cláudia. Questionadas se gostariam de voltar no tempo ou abrir mão do trabalho, a resposta é negativa, em coro. “Dá vontade de voltar no tempo, mas só por um pouquinho. Eu não suportaria ser só a dona-de-casa. De jeito nenhum a gente quer só o que tinha antes”, ressalta Cláudia.


AMOR?
Trabalhar é preciso, ser mãe é necessário. Casar é opcional?
Não, casamento ainda é prioridade, de acordo com as entrevistadas. “Se hoje eu fosse planejar de novo o começo da minha vida, eu queria ter minha estabilidade financeira, depois os filhos e depois o marido”, revela Cláudia. “No meu caso seria a estabilidade, o marido e depois o filho”, rebate Paula.
Sueli, a mais jovem das entrevistadas, aos 21 anos inicia sua carreira profissional. Mãe há nove meses, afirma ter mudado suas concepções de mundo, à medida que o filho foi se tornando uma realidade em sua vida mas ainda sente falta de algo. A jovem, solteira, acredita que encontrar um companheiro para dividir as responsabilidades é absolutamente fundamental. “Mas tudo ao seu tempo. Agora eu não quero isso, mas espero casar, ter um companheiro para toda a vida assim que outras questões sejam resolvidas, assim que eu tiver liberdade financeira, por exemplo”, revela.
Segundo as entrevistadas, a questão fundamental que norteia os pensamentos femininos é a conquista da liberdade e as maneiras de administrá-las. “O que as mulheres querem? Elas querem tudo aquilo que tinham antes e um pouco mais”, afirma Mauren. E, muitas vezes, o mesmo de sempre. “Toda mulher quer viver um grande amor, um verdadeiro amor, independente de ter espaço no mercado de trabalho e poder ser uma profissional de sucesso. A gente quer casar, quer ter filho, isso ainda é fundamental”, conclui Paula, apoiada pelas colegas.

Matéria veiculada na sexta-feira, 24 de abril de 2009.

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sexta-feira, 17 de abril de 2009

"A senhora é solteirona?"




“Mais uma matéria clássica sobre aniversário de cidade. Sempre a mesma coisa, o mesmo tédio.

Nem sempre dá para inovar, quase nunca dá para curtir. Em Bela Vista, então...

Converso com o senhor de quase noventa anos de idade até que o papo flui e ele, que já está na quarta esposa, pergunta se eu sou “solteirona”.‘Você tem o quê, uns 28 anos?’

Olha para mim, me envelhece seis anos e me faz pensar, urgentemente, na compra de renew. Há coisas que só na insólita Bela Vista... só lá”


Muito mais de 15 anos de história de BVT

Mais jovem das cidades da região comemora emancipação

Gracieli Polak
BELA VISTA DO TOLDO

Colonizada por italianos, alemães, poloneses, portugueses e ucranianos, a mais jovem das cidades do Planalto Norte completou, ontem, 15 anos de emancipação política e administrativa. Repleta de bonitas paisagens, Bela Vista do Toldo aos poucos se desenvolve e mantém na agricultura sua principal vocação, a mesma dos primórdios de sua colonização.
Em um casarão antigo, com vigor físico que a idade não conseguiu apagar, um dos mais antigos moradores fala sobre a vila que habita desde criança e a cidade que agora cresce e traz, cada vez mais, conforto para seus moradores. Joaquim Angelo Pereira, prestes a completar 90 anos de idade (88 morando em Bela Vista do Toldo) cresceu junto com a pequena região e, comerciante, acompanhou de perto a evolução do lugar em que fixou raízes.
Pereira conta que, quando veio com os pais, de Joinville, para morar na então localidade chamada de Toldo, que na época tinha aproximadamente oito casas e a “bodeguinha” adquirida pelo pai, tudo era muito longe e a vista era tomada pelas araucárias, hoje não tão abundantes. “Era um lugar bom para se morar. Tinha muita erva-mate, muita riqueza, mas tudo era muito longe aqui”, recorda. Crescendo em meio às riquezas naturais e às limitações, o aposentado avalia que tudo hoje está mais fácil, ao alcance de todo mundo. Sua companheira, Tereza Janicoviski Tadra, concorda com ele.
Tereza, que morava no interior do município, hoje vê com bons olhos o progresso que toma conta da cidade. As obras do lado da casa do casal, segundo ela, são reflexos do crescimento da cidade que, na opinião do casal, deveria apresentar mais alternativas de desenvolvimento para os jovens. “Aqui não tem indústria nenhuma. Deveria ter para que muito mais gente ficasse aqui, não fosse embora”, defende Tereza.

QUE BELA VISTA!
Dona de um nome peculiar, Bela Vista do Toldo registra em sua história oficial a versão de que a denominação surgiu de exclamações de visitantes que passaram pela região e presenciavam a bonita visão das colinas com toldos. Segundo Pereira, foi Estanislau Schumann quem determinou que a localidade de Toldo, ao ser transformada em distrito, passasse a se chamar Bela Vista do Toldo. “Ele mandava aqui, era uma pessoa muito influente. Ele resolveu que aqui se chamaria Bela Vista do Toldo por causa da visão que tinha da casa dele, bem no alto, de onde ele via muito pinheiro. Na hora de definir um nome ele disse: ‘Vai ser Bela Vista do Toldo’, e ficou esse mesmo”, relembra.

As comemorações pelo aniversário do município acontecem até domingo, quando a Festa da Colheita é oficialmente encerrada.

- Matéria veiculada hoje, sexta-feira, 17 de abril de 2009.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Nova praga no campo?



"13h10min de uma sexta-feira alucinadamente quente.
Graci, dois agrônomos estão vindo aí para fazer uma entrevista sobre uma doença aí...
'Que doença? Qual o nome? Em qual cultura?'
'Ah! sei lá. Disseram que uma doença bem séria. Tão chegando. Ó, chegaram.'

Sim, perdida, parti do princípio e revelei minha ignorância. 'Escleroquê?? Então escreve certinho. Isso, brigada!'

Calça jeans de novo, blusinha meio out, sandália verde salto dez tipo elemento surpresa usada somente em dias quando não há a menor possibilidade de ir cobrir agricultura, composição descomposta. Muito sol, pouco protetor, muita empolgação e um elemento estranho de sandália verde na plantação de feijão".


Uma nova vilã aparece nas lavouras da região
Murcha da sclerotínia aparece em quase totalidade agrícola do Planalto Norte

Gracieli Polak
CANOINHAS

Esqueça da ferrugem e de todas as outras doenças que podem ocasionar perdas no campo. Nenhuma é mais preocupante do que uma nova praga que tem se alastrado pela região e a cada período produtivo deixado mais evidências de que se alastrará ainda mais, segundo agricultores e agrônomos que atuam na região.
A murcha da sclerotínia, ou simplesmente mofo branco, de acordo com o engenheiro agrônomo Vagner José Naves dos Santos, é uma doença que antigamente acontecia no Cerrado, mas que agora se alastra rapidamente pelas lavouras da região Sul do País e se torna um problema pertinente também no interior do Planalto Norte. “É um problema real no campo, que do ano passado para cá, só tem aumentado na região. Hoje ela pode comprometer de 5 a 100% da lavoura de várias culturas, como o feijão e a soja, plantada em larga escala ”, alerta Santos. Segundo o engenheiro agrônomo, a doença, causada por um fungo, acontece durante o período de floração e é extremamente agressiva à planta, que tem seu desenvolvimento restrito e, consequentemente, sua produção reduzida. “Hoje não tem doença fúngica que cause mais perda que a sclerotínia. O dano é muito maior do que o causado pela ferrugem, por exemplo. Na ferrugem você tem pré-determinado o tratamento: começou a florar, você faz uma aplicação e vinte dias, faz uma nova aplicação. Com a sclerotínia não é assim. Você precisa ter um conjunto de ações, senão você não controla. Ela causa muito mais dano”, alerta.
O agricultor Ângelo Kohler, da localidade da Fartura, concorda. De acordo com Kohler, o mofo branco hoje é a doença mais preocupante para as lavouras de soja e feijão, culturas exploradas em sua propriedade. Nas plantações do agricultor, o fungo apareceu na safra passada, em média escala, mas muito tarde para que fosse realizado o tratamento da lavoura. Neste ano, na época em que a doença poderia surgir, Kohler começou a tratar a plantação, diminuindo a incidência da doença. “Eu hoje vejo que a sclerotínia é um problema maior que a ferrugem. Com certeza, o maior problema no campo é o mofo branco, então vale a pena investir no controle da praga”, afirma. Para o agricultor, que investe na sua produção agropecuária, o cuidado é justificado. No inverno, as áreas usadas para agricultura viram pasto para o gado, o que ocasiona compactação do solo, um dos agravantes para a expansão da doença.

TRATAMENTO COMPLEXO
Escolha de variedades menos suscetíveis à doença, manejo de solo, rotação de culturas e tratamento das sementes utilizadas são algumas das ações que podem amenizar o avanço da doença, aliado ao uso de fungicidas específicos para o combate. O fungo responsável pela proliferação do mofo branco se aloja na planta na forma de sclerotíneos, chamados popularmente de “bostinhas de rato”, devido à semelhança com as fezes do roedor. “É essa “bostinha de rato” que fica no solo por até doze anos. Ela faz com que a doença penetre na terra e seja ativada sempre que as condições forem favoráveis”, explica Santos.
O mofo branco chegou à região através de sementes contaminadas e hoje está presente na quase totalidade dos solos agricultáveis da região. “Se as medidas corretas não forem adotadas pelos agricultores, o mofo branco vai se espalhar cada vez mais. Todos os solos daqui estão contaminados, então o pessoal sabe que vai ter a doença, como teve no ano passado e neste ano. No ano que vem vai ter de novo. O fungo pode estar lá, mas se você tratar, a doença vai ficar paralisada”, defende. O custo do manejo de fungicidas para combater à praga hoje é inferior a 5% da produção média por área plantada e, além de prevenir a perda da produção na decorrente safra, minimiza a expansão do fungo.

- Matéria eiculda na sexta-feira, 19 de março de 2009.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Debaixo da luz vermelha

“A ideia surgiu na sexta-feira, durante a reunião de pauta.
Não foi minha.
Coube a mim, então, descobrir as histórias encobertas pela luzes vermelhas, pelas doses a seco de conhaque, pelo pudor que a sociedade trata a profissão.
Calça jeans skinny, blusa- uniforme, sapatilha e não um salto, unhas vermelhas e batom incolor acompanhavam meu receio e, por que não, meu medo de colocar o dedo na ferida. Acontece.
Crachá no peito, bloco e caneta na mão, disposição no bolso. E, como diria a bruxa do Pica-Pau: 'E lá vamos nós!'".


A VOLTA DAS CASAS DA 'LUZ VERMELHA'

Embora repreendidos pela Polícia, pontos de prostituição nunca foram extintos na região, mas dez anos depois da proibição estão cada vez mais explícitos

Gracieli Polak
CANOINHAS/TRÊS BARRAS

Sol forte e clima abafado, poeira na rua que ladeia um dos mais famosos “bares de mulheres” de Canoinhas. Lá dentro, o clima é fresco e o ambiente não condiz com o que a imaginação popular credencia a este tipo de estabelecimento. Aberto durante o dia, as portas da ‘empresa’, como se refere sua dona ao bar, ficam abertas para quem quiser tomar uma bebida e, eventualmente, arrumar companhia.
De blusa amarelo ouro e maquiagem discreta, com um traço fininho do delineador azul metálico nos olhos, Paula* chega ainda com os cabelos molhados, pronta para mais um dia de trabalho. Silenciosa, a jovem mede as palavras e se revela minimamente, aos poucos. Falar sobre o passado e a forma como chegou à prostituição não parece ser fácil. “Não gosto de falar sobre isso”, diz e se cala, sem abrir espaço para uma nova pergunta.
Arlete*, a proprietária do local, no entanto, fala, defende e explica a prostituição. Vinda de família muito pobre, então com 18 anos de idade, ela foi expulsa de casa pelo pai, depois do nascimento da filha enquanto era solteira. Sem rumo, a jovem saiu de casa e, graças à ajuda da madrasta, pode deixar o bebê, então com 40 dias de idade. Voltou dez anos depois para buscá-la, casada e com outros filhos. Antes de encontrar o homem com quem se casou, Arlete “fez a vida”, trabalhou em muitos lugares, se tornou alvo de preconceito e discriminação. Anos mais tarde, separada do marido, voltou a trabalhar na noite, desta vez gerenciando estabelecimentos do gênero. No final de 1999 e começo de 2000, quando os meretrícios e boates da região foram fechados ela comandava uma casa de shows em Três Barras. Com a proibição, comprou um bar no Campo d’Água Verde que mantém até hoje. “Com alvará da prefeitura, regulamentado, tudo certo como determina a Lei. Todo ano pago meus impostos, não devo nada para ninguém”, explica.

FIM DAS BOATES?

Arlete conta que, no final de 1999, as áreas consideradas como “zonas” foram fechadas na cidade. O então delegado regional, Osmar Amorim, de acordo com ela, foi rígido o suficiente para acabar com as boates na cidade e fechar todos os estabelecimentos. “Ele proibiu qualquer tipo de boate em Três Barras e Canoinhas. As casas explícitas foram fechadas e os bares, lugares mais calmos e com atendimento até às 22 horas foram fiscalizados. Se você não cumprisse o que ele determinava, o estabelecimento era fechado”, conta.
De acordo com os arquivos do CN, em 1.º de fevereiro de 2000, o comissário de polícia Luiz Rosa Peres fechou as portas do estabelecimento localizado no KM 6 em Três Barras, acabando com as chamadas “zonas” que se perpetuavam, prometendo mais ações contra os estabelecimentos, principalmente, no bairro São Cristóvão. A decisão não foi bem acolhida pelos donos de boates, que ameaçaram levar as meninas para fazer ponto na rua. As prostitutas que trabalhavam nesses estabelecimentos defendiam o direito de trabalhar nos locais específicos, mas, com o fechamento, de acordo com o CN, algumas planejavam ir embora. Segundo Arlete, a maioria ficou por aqui mesmo, fazendo ponto na rua ou se deslocando para os bares que se espalharam por Canoinhas e Três Barras e que, de acordo com ela, somente no Campo d’Água Verde, são cinco.
Mas, quem passa pela SC-280 iluminada por luzes vermelhas perto do trevo que dá acesso à cidade, nota que a era das boates explícitas em Canoinhas está voltando.

NOITE QUENTE FEITA COM ROSTOS TRISTES

A partir das 16 horas, as boates localizadas na Pedra Branca abrem as portas. Com as luzes vermelhas ainda apagadas, o ambiente é calmo e a música de fundo é a tocada por uma das rádios locais. Ambiente pequeno, um palco improvisado e uma juke box compõem o cenário, que contrasta com a imagem jovial, um tanto infantil, da menina que atende ao chamado. Sem maquiagem e com uma roupa juvenil, a moça mostra simpatia, mas não quer falar sobre os motivos que a levaram para os caminhos da prostituição. Sem revelar nome, idade ou qualquer outro detalhe, seus olhos marejam ao dizer que prefere não falar sobre sua vida. Situação compartilhada com outras mulheres, como Paula.
Para Arlete, que hoje não tem pudor de falar sobre sua vida e sobre os motivos que a levaram a prostituição, tal receio se justifica pelo histórico comum de violência e pobreza enfrentado pelas meninas. “A maioria veio de famílias sem nenhuma decência, de lares desestruturados, de ambientes de muita pobreza. Poder alimentar a família, garantir mais conforto para os irmãos, só isso é uma vitória”, revela. “E é nas boates que elas conseguem isso. Nas ruas, prostituta vira problema social”, reitera.

“MELHOR AQUI DO QUE NAS RUAS”

De acordo com a ex-prostituta, veterana e profunda conhecedora do assunto, problema maior, “muito maior”, segundo ela, é a prostituição nas ruas. “As meninas que trabalham aqui no meu bar são orientadas para usar camisinha, fazem exames de sangue periodicamente, me informam quando saem com algum cliente. Têm muito mais segurança. E a menina que está na rua? Muitas vezes é uma criança, que não sabe nem como usar o preservativo, não tem noção dos riscos que está correndo. Fica muito mais exposta, sofre mais violência”, afirma.
“A prostituição existe aqui e em qualquer outro lugar. É a profissão mais antiga do mundo. A sociedade recrimina, coloca à margem, mas foi a maneira que essas meninas conseguiram de se virar na vida. Mas, e se alguém resolver sair dessa vida? As duas meninas que trabalham comigo limpam a casa, lavam e passam minha roupa e fazem a comida. Trabalho impecável. Você daria emprego para uma p...?”, pergunta.

EXPLORAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO É CRIME

De acordo com o comissário da Polícia Civil de Três Barras, Luiz Rosa Peres, uma das peças fundamentais para o fechamento das áreas de prostituição em 1999, a Lei aplicada na década passada ainda é válida. O artigo 229 do Código Penal Brasileiro é claro e pune com rigidez quem promove ou se beneficia da prostituição: dois a cinco anos de prisão. Segundo Peres, três situações ligadas ao assunto são puníveis pela Lei brasileira: promoção de local para prostituição, favorecimento à prostituição e aliciamento de mulheres.
O comissário afirma que o ressurgimento das ‘casas da luz vermelha’ na cidade é ilegal, porque não existe maneira de legalizar as boates simplesmente porque não há alvará para que elas possam funcionar com esta característica. “Na época do fechamento de todos os estabelecimentos do gênero na região começaram a surgir os bares, que até um determinado tempo seguiram as determinações judiciais, mas, aos poucos e discretamente, voltaram a promover a prostituição. Somente na chamada rua Velha, na saída de Canoinhas, em Três Barras, contei mais de 19 estabelecimentos. Os ‘caras’ abrem os bares e, com o tempo, vão levando mulheres para trabalhar lá”.
De acordo com o delegado, o mascaramento da atividade é uma condição que atrapalha a fiscalização da Polícia, porque, para que o indiciamento seja realizado é necessária uma investigação que comprove as atividades irregulares, fato que, devido à quantidade dos estabelecimentos, se torna inviável. “Este é um caso parecido com o do jogo do bicho. Três Barras tem. Canoinhas tem. Mafra tem. No Brasil inteiro existe, em todo lugar. Esses lugares eram chamados de ‘casas de tolerância’ justamente por causa da tolerância da polícia em relação à sua existência. É praticamente impossível que acabem”, declara. Para o Superior Tribunal de Justiça (STF), que na segunda-feira, 9, aumentou as penas ligadas ao crime, o fato de haver tolerância ou indiferença na repressão criminal não significa que a conduta não está tipificada no Código Penal e que não seja passível da pena prevista.
O delegado regional Getúlio Scherer, responsável pela concessão de alvarás na Comarca, não foi encontrado pela reportagem.

“NINGUÉM QUER SER P...”

A prostituição, em si, não é considerada crime, tanto nos bares, casas noturnas ou nas ruas. Segundo Peres, o direito de ir e vir, garantido pela Constituição Brasileira permite que as mulheres se exponham e se prostituam. “Se a menina está fazendo ‘ponto’ na rua não há o que possa ser feito. Mesmo nas boates, elas não são criminosas. Nisto você não pode interferir. Se ela for menor de idade, aí sim é outra situação e o Conselho Tutelar pode ser contatado para que providências sejam tomadas”, explica.
Para quem trabalha na noite, a opção por ficar ao abrigo de uma casa noturna significa melhores condições de trabalho e, dadas as limitações, certo anonimato no exercício da profissão. “Ninguém que ser p... Pouquíssimas são as mulheres que entram nessa vida por opção própria. Elas dão prazer enquanto, na verdade, não sentem prazer nenhum. A satisfação delas está em poder comprar um chinelo novo, um pacote de fraldas ou a comida dos filhos. Para muitas mulheres, prostituição é sinônimo de sobrevivência. Isso não é vida fácil. Não é nada fácil ir para cama com alguém que você nem conhece, sem ter, ao menos, a chance de dizer não”, defende Arlete.

*Os nomes das profissionais foram trocados por fictícios a pedido das entrevistadas

- Matéria veiculada na sexta-feira, 20 de março de 2009.