segunda-feira, 13 de julho de 2009

Vamos falar sobre sexo?



PAPO CABEÇA SOBRE SEXO
Adolescentes falam de certezas e incertezas da vida

Gracieli Polak
CANOINHAS

No documento, menor de idade. Na cabeça dos pais, eternas crianças. Na deles mesmos, donos de si. Quem disse que ser adolescente é fácil? Na falta de definições para este período de transição, rótulos coloridos e extravagantes como o universo que os cerca surgem em diversas situações e várias formas. Para conversar sobre temas que fazem parte do universo teen, o CN reuniu um grupo de jovens e propôs um debate sobre questões pertinentes a esta fase da vida, em que as dúvidas são ainda mais latentes que as certezas.
Com idades entre 16 e 17 anos, alunos do terceiro ano do Ensino Médio, Eduardo, Kaio, João, Gabriel, Caroline, Marina, Letícia e Amanda estudam no Colégio Realização, são muito diferentes entre si, mas compartilham dúvidas comuns. Enquanto alguns sabem exatamente o que esperam do futuro, outros não têm definição alguma. Com temperamentos também distintos e concepções diferentes, eles conversaram sobre sexualidade, conhecimento sobre métodos anticoncepcionais, relacionamento com os pais e o resultado disso misturado, tudo ao mesmo tempo e agora.

Na família, mais que informação sobre sexo

Diálogo com pai e mãe é focado na preservação da saúde

Que assunto pode provocar mais rubor em meninas e meninos que temas relacionados à sexualidade? Do primeiro namoro às primeiras relações sexuais, o assunto ainda visto como tabu pela sociedade é natural e inerente ao ser humano. Então, porque não conversar sobre ele?
Segundo uma pesquisa divulgada em julho pelo Ministério da Saúde, a vida sexual dos brasileiros está começando cada vez mais cedo. Aos 15 anos, cerca de 27% dos jovens já iniciaram suas relações entre lencóis. Se os jovens conhecem o sexo cada vez mais cedo, o debate em casa sobre o assunto deve começar igualmente mais cedo, segundo profissionais da área, para que situações de risco sejam amenizadas.
Para as meninas, o diálogo com os pais tem grande importância e, em qualquer situação, o apoio da mãe deve ser requisitado, porque amizade entre mãe e filha deve ser priorizada. “Eu conto tudo para minha mãe, peço orientação, quero saber o que ela pensa sobre muitas coisas. Para mim, mãe tem de ser minha melhor amiga e é essa relação que eu tenho com ela”, explica Marina, que tem os pais separados.

ESCOLA COMO MESTRE

Os adolescentes ouvidos pelo CN dizem que sexo é assunto para ser discutido na escola, sim senhor. “Nós tivemos aula de saúde logo no começo do Ensino Médio e deu para aprender muita coisa, inclusive os métodos anticoncepcionais. È uma informação orientada, debatida e, claro, tem uso prático na vida”, esclarece Kaio.
Embora afirmem ter bom relacionamento com os pais e abertura para falar sobre sexualidade em casa, a maior parte do grupo acredita que só a informação aprendida na escola já é suficiente. “Tudo é bem explicado na escola. Não sobra dúvida, ou se sobra é pouca coisa, para perguntar para a minha mãe”, defende Marina. “Mas também não dá para falar tudo, né? Eu não vou chegar para ela e dizer que fiquei com tal garoto, ou alguma coisa assim, só quando é alguma coisa que realmente tem importância”, reitera. “Até mesmo porque nem sempre é uma boa ideia contar tudo para mãe. Eu muitas vezes, em assuntos assim, falo com meus irmãos”, afirma Gabriel.

IRMÃOS COMPANHEIROS


Caçula na casa, Gabriel conta encontrar um caminho aberto de diálogo com o irmão e a irmã mais velhos, situação semelhante à de Eduardo, que também procura orientação com os irmãos. No grupo, quem não tem irmão mais velho, apela para o mais novo. “Eu prefiro conversar com meu irmão, que é mais novo que eu. Tudo bem que tenho abertura com minha mãe, também, mas é mais fácil”, conta João.
Entre pais e irmãos, ainda sobra muito espaço para os amigos. “Eu tenho irmãos mais velhos, mas é bom conversar com os amigos, porque a gente tem a mesma idade, às vezes dúvidas parecidas”, defende Letícia. Para o grupo, a conversa e a discussão entre o círculo de amizades é esclarecedora, mas não substitui o diálogo em família. “Minha mãe para mim é tudo. Eu posso até conversar com minhas amigas, mas não vou esconder as coisas dela, até mesmo porque se tem alguém que vai poder me dar orientação, é ela”, confirma Carol.

PALAVRA DE PROFISSIONAL

De acordo com a psicóloga Ana Carolina Zan, de Canoinhas, o interesse por assuntos relacionados à sexualidade é absolutamente normal nesta fase da vida, porque à medida que as primeiras mudanças começam a ser sentidas no corpo dos adolescentes, surgem as primeiras dúvidas. “Para esclarecer estas dúvidas, a participação dos pais é muito importante. Mas ela deve ser ponderada, para que os filhos não se sintam sufocados”, esclarece.
Segundo a psicóloga, a relação de cumplicidade em família deve ser estimulada por pais e filhos, mesmo que a fase vivenciada pelos adolescentes não seja amena. Ana defende que a informação a que os adolescentes têm, seja na escola ou nos grupos de amigos é, sim, importante, mas deve ser contextualizada. “Abertura em casa é essencial para que eles não vejam o sexo como uma coisa suja, proibida. Muitos adolescentes escondem sua sexualidade dos pais por pensar desta maneira e, com diálogo, eles podem ter uma nova concepção, que provavelmente vai gerar mais confiança e, inclusive, responsabilidade”, alerta.
Entre as dúvidas de pais que, segundo Ana Carolina, não conseguem enxergar que os filhos cresceram e que estão passando por tal fase de transformação, muitas vezes surgem situações problemáticas. “Desmistificar os assuntos relacionados à sexualidade, conversar abertamente, quebrar os tabus e orientar os filhos são atitudes que vão, com certeza, fazer a diferença nas escolhas deles”, orienta.