terça-feira, 22 de setembro de 2009

Educação nota 10?

O que falta para que nossa educação seja de qualidade?
MEC preconiza que escola deve ter média mínima 6 no Ideb; em Canoinhas, maior nota é 5,7

Gracieli Polak
CANOINHAS

Pelos critérios de avaliação do Ministério da Educação (MEC), nenhuma das escolas municipais ou estaduais do Ensino Fundamental de Canoinhas oferece aos seus alunos educação de qualidade. Segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), ainda falta muito para que o município, assim como o País, atinja a nota 6 na prova que avalia a qualidade do ensino na primeira etapa da vida escolar.
A informação de que a educação brasileira não é satisfatória não traz nenhuma novidade. Poucos colégios dos 5,5 mil municípios do País superam a nota estipulada pelo MEC e na região, somente o Centro Educacional Itaiópolis, de Itaiópolis, obteve nota maior que o 6 preconizado pelo ministério na avaliação realizada em 2007, embora a Escola de Educação Básica Sagrado Coração de Jesus esteja perto, com 5,7. Nas séries iniciais o Sagrado, junto com a Escola de Educação Básica João José de Souza Cabral, também tem a maior nota de Canoinhas, 5,4, mas ainda não chega lá. O CN conversou com os dirigentes das melhores e das piores escolas, segundo o índice do Ideb, e buscou respostas para explicar o problema.

SAGRADO E CABRAL, AS MELHORES
Boas estruturas, professores qualificados, projetos pedagógicos adequados ao desempenho dos alunos, interesse dos pais em participar da vida escolar dos filhos são fatores comuns nas duas escolas melhores colocadas. Gigantes no tamanho e na quantidade de alunos, Sagrado e Cabral hoje são referência na cidade, mas segundo o MEC, ainda precisam melhorar.
A diretora do Cabral, Maria Tereza Feger Olsen, administra a escola que abriga uma média de 800 alunos e credita o aumento na nota recebida à boa qualificação do colégio e também da comunidade escolar. “Não é só a prova: é todo um contexto”, defende, mas explica que ainda precisa melhorar. Nas condições da instituição, que tem absoluta maioria do quadro profissional efetivo, boa participação dos pais, professores atuando em sua área de formação específica e índice de desenvolvimento social razoável, segundo Maria Tereza, a obtenção da nota ideal no índice, para a diretora, será a consequência do trabalho realizado. “Estamos acima da média de Canoinhas, mas ainda estamos muito longe da média 7 que queremos alcançar”, conclui.
Para atingir esse patamar, o investimento dos profissionais no desenvolvimento e no respeito ao programa pedagógico e a atuação intensiva na educação dos estudantes são atividade constantes, segundo a diretora. Segundo a projeção do MEC, em 2013, o Cabral alcança a nota 6,1 nas séries iniciais.
Ainda neste ano, segundo a mesma projeção do MEC, o Sagrado chega à média 6, na avaliação que será realizada em dezembro e terá seus resultados divulgados no decorrer de 2010. A escola, que alcançou média 5,7 nas séries finais, nessa fase, no entanto, tem previsão de chegar à média 6 em 2015.

RODOLFO E GADZINSKI, OS PIORES
Situadas em bairros em que as desigualdades sociais são gritantes, com avanço crescente do uso de drogas e crescimento da violência, as últimas colocadas no índice compõem um quadro comum de dificuldades, concentradas principalmente na falta de perspectivas dos alunos.
Para a diretora da Escola de Educação Básica Rodolfo Zipperer, última colocada de 6.ª a 9.ª séries, Margareth Dambroski, uma série de fatores influenciou o resultado negativo obtido pela instituição, inclusive a visível falta de estrutura física do complexo estudantil, situação que se arrasta enquanto o novo prédio não é concluído. Segundo Margareth, fatores como a falta de perspectiva familiar e condições sócio-econômicas baixas, aliadas à criminalidade e ao aumento indiscriminado do consumo de drogas no bairro fazem com que o interesse dos alunos pelas questões escolares seja minimizado. Outro fator, avaliado pelo Ideb, a relação entre a série e a idade do estudante, no Rodolfo se traduz em distorção série idade. “Nós temos muitos alunos de 15 anos na 5.ª série, crianças que não estão na sua série ideal, mas que não tiveram condições de avançar”, conta.
No Grupo Escolar Municipal Frei Fabiano Gadzinski, pior desempenho de 1ª a 5.ª série, localizado no bairro Cristo Rei, a falta de perspectiva dos alunos se repete. Segundo a diretora da instituição, Luzíria de Barros Pereira Cordeiro, os problemas enfrentados pelos professores extravasam os limites das salas de aula, porque o desempenho fraco de grande parte dos estudantes são questões estruturais, familiares na maioria das situações. “Muitas crianças não são motivadas a estudar. Falta incentivo dentro de casa e, sem perspectivas, o trabalho também fica difícil”, explica.
Localizada em um dos bairros mais pobres de Canoinhas, a situação sócioeconômica da região, segundo a diretora, é uma agravante da situação, porque as crianças não conseguem ter um nível aceitável de concentração nas aulas, o que provoca o desencadeamento dos outros problemas, como a distorção série idade, situação constatada no Rodolfo. Outro fator enfatizado pelas profissionais é a falta de participação dos pais, elemento fundamental para obtenção do bom desempenho das melhores colocadas. “Tem criança que leva tema para casa, mas a mãe nem se preocupa em olhar o que a criança faz. Além disso, há muita desigualdade e exclusão social, porque para muitos a escola serve apenas para conseguir os benefícios do Governo”, diz Maria de Lourdes Lemos, orientadora pedagógica da instituição.

ESTRATÉGIAS DE MELHORIA?
Aliar poder público ao desenvolvimento dos estudantes tem sido a estratégia adotada pelas escolas em piores condições para melhorar a qualidade do ensino. Na Frei Fabiano, uma parceria com o CRAS 2, que atende à região, pretende trabalhar com as famílias para que haja maior incentivo à educação dos filhos. “O trabalho agora é de fora para dentro. Somente as quatro horas que eles passam na escola não fazem milagres”, esclarece Luzíria. No Rodolfo, estratégias parecidas se repetem. “Com certeza o índice baixo não é por causa dos professores ou por falta de investimento na educação, mas o meio influencia muito”, analisa Roseli de Fátima Schivinski, professora que atua provisoriamente no apoio pedagógico na escola.
Segundo ela, alguns projetos são desenvolvidos na escola justamente para criar uma identidade otimista nos alunos, principalmente pela situação de degradação que o colégio enfrenta. Esperada para o ano que vem, a inauguração do novo prédio traz esperança para os profissionais, que ainda querem transformar o “caldeirão Rodolfo” em uma escola modelo. Na projeção do MEC, somente em 2021 a escola alcançará a média 5,1, ainda longe de ser qualificada.
A gerente de Educação da 26.ª Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR), Francisca Maiorki explica que todas as escolas recebem tratamento igual e os fatores apontados pelas diretoras, como os índices sócioeconômicos baixos são, sim, determinantes para a diminuição do índice. “As escolas com rendimento baixo estão recebendo capacitação específica para melhorar a qualidade, principalmente tentando mobilizar a comunidade em que está inserida”, diz.
Para Francisca, em relação à média nacional, o índice alcançado por Canoinhas é satisfatório, mas ainda tem muito para melhorar. A média brasileira no Ideb 2007 foi de 4,2. A projeção para o País é de que em 2022 a média seja 6, considerada satisfatória.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Tempo fechado!




Possível tornado provoca devastação no interior
Pinheiros foram arrancados; madeira deve ser legalizada, diz Fatma

Gracieli Polak
CANOINHAS

O encontro de duas massas de ar diferentes causou a mudança radical no clima que atingiu o Estado desde o domingo, 6, segundo o Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram). Além da chuva forte, no interior de Canoinhas, o vento assustou e deu trabalho aos moradores, que, graças ao período de entre safra, não tiveram muitos prejuízos, mas viram destruição em áreas de mata.
Na propriedade de Írio Dranka, no Salto d’Água Verde, a tormenta da madrugada de terça-feira, 8, que provocou a morte de quatro pessoas em Guaraciaba, no Oeste de SC, deixou 1 milhão de pessoas sem energia elétrica, além de 45 cidades com 340 mil casas danificadas, deixou ainda devastação na mata nativa do agricultor. Inúmeras árvores tiveram copas e galhos arrancados, mas a violência do vendaval ficou mais evidente com os estragos sofrido pelas araucárias da propriedade. “Nove pinheiros foram para o chão. Cinco perderam a copa e outros quatro foram arrancados pela raiz”, conta o agricultor. Dranka suspeita que um tornado tenha passado pelas suas terras, porque algumas árvores que perderam galhos estavam retorcidas em várias direções. “O vento veio de todos os lados, então isso pode ter sido um tornado”, acredita.
De acordo com o Ciram, é necessário fazer uma vistoria para comprovar o fenômeno, mas, devido ao grande número de cidades atingidas, este trabalho não é ágil. “No entanto, existem evidências de que o fenômeno pode ter atingido a região. Em alguns locais somente imagens já podem confirmar a ocorrência do fenômeno” diz a meteorologista Laura Rodrigues.

NA REGIÃO
Em Três Barras, de acordo com informações do Corpo de Bombeiros, houve apenas duas ocorrências registradas, para retirada de árvores da pista. Em Bela Vista do Toldo, o fenômeno destelhou algumas casas, mas os prejuízos maiores foram na zona rural, devido às árvores caídas na rede de energia elétrica do município. Até a tarde de ontem, algumas comunidades ainda estavam sem energia.
Monte Castelo teve 270 edificações atingidas, com pelos menos dois feridos, sendo uma vítima de infarto e 40 desalojados.
Para quem teve árvores nativas arrancadas em sua propriedade a gerência regional da Fundação do Meio Ambiente (Fatma) faz um alerta: é preciso regularizar a madeira para poder utilizá-la. “É preciso que eles regularizem a situação, até mesmo porque o transporte até uma serraria, por exemplo, precisa estar documentado”, esclarece a bióloga Mariane Murakami da Silva.
A Fatma, segundo Mariane, está recebendo inúmeros pedidos de informação sobre a regularização desde terça-feira, mas para que os proprietários possam aproveitar a madeira, obrigatoriamente, devem entrar com projeto junto ao órgão.

NÍVEL NORMAL
A chuva deixa as comunidades ribeirinhas apreensivas. A altura do rio Canoinhas, segundo informações do 9.º Batalhão de Bombeiros, ainda não é preocupante. Medição realizada ontem à tarde constatou que o nível de água é de aproximadamente 4,4 m. Quando atinge 5,7 m a situação começa a preocupar.
Entre segunda-feira, 7, e ontem, a estação meteorológica de Major Vieira, registrou choveu 109 milímetros. O volume só é menor que o registrado em Urubici, no Planalto Sul, e Rio do Oeste, no Alto Vale do Itajaí.

Tempo deve permanecer instável no final de semana
Chuva permanece e risco de ventos fortes persiste: comunidades ainda estão sem luz

Oficialmente em situação de emergência, Canoinhas ainda conta os prejuízos causados pela forte chuva da madrugada de terça-feira, 8. Segundo dados oficiais da Defesa Civil do Estado, 310 edificações foram afetadas em Canoinhas e o município espera o reconhecimento do decreto para receber ajuda do Governo do Estado. “Cerca de 150 pessoas nos procuraram para receber ajuda, como lonas para cobrir as residências”, afirma Felipe Davet, coordenador da Defesa Civil no município.
Em decorrência do vendaval, o Corpo de Bombeiros também recebeu pedidos para atender a mais de 40 casos, mas, na maioria das chamadas, o auxílio era prestado também para os vizinhos, por isso, de acordo com a entidade, não foi possível precisar a quantidade exata de pessoas atingidas. Quatro dias depois do fenômeno, de acordo com Davet, a situação agora é estável, agravada apenas pela falta de energia elétrica nas residências do interior do município.

SITUAÇÃO CRÍTICA
Em toda a região, até a tarde de ontem os problemas com falta de energia elétrica persistiam. Segundo o chefe da agência de Canoinhas da Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), Osvaldo Roberto Romanowski, a situação é crítica, porque os estragos provocados pelo temporal ainda são incalculáveis. “Estamos trabalhando em 10 equipes, praticamente sem parar, e não conseguimos arrumar tudo”, diz.
Romanowski conta que mais de 30 postes foram arrancados e a quantidade de fios atingidos por galhos de árvores não pode ser precisada. Em algumas comunidades do interior, como Serra das Mortes, Barra Mansa e Rio d’Areia a energia ainda não foi restabelecida. “Se o problema tivesse acontecido somente aqui, nós teríamos reforços, mas como aconteceu em toda a região, falta pessoal para fazer o conserto”, explica. Diante da situação, o alerta para que as pessoas não se encostem a fios caídos permanece. “Pode ter corrente elétrica, então é perigoso. Não queremos nenhum acidente deste tipo”, esclarece.

O QUE ESPERAR DO TEMPO?
A chuva que cai sem cessar desde o domingo, 6, promete mais uma vez aparecer durante o final de semana na região. De acordo com previsão divulgada pelo Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram) uma leve melhora poderá ser sentida hoje na região, quando as precipitações serão intercaladas com momentos em que o sol aparecerá. Amanhã e no domingo, 13, no entanto, o tempo fecha mais uma vez, mas os fenômenos previstos para estes dias são menos dramáticos que os enfrentados no começo da semana.
As temperaturas amanhã oscilam entre 13 e 19° C, com rajadas de vento que podem chegar aos 30 Km/h, com chuva durante o dia todo. Para o domingo, a oscilação é maior, entre 11 e 22° C, e no início e no final do dia o sol poderá aparecer. Com precipitação acima de média no mês de agosto e também maior que a expectativa neste começo de outubro, a instabilidade é preocupante na região (acompanhe previsão para próximos meses ao lado).

Matérias veiculadas hoje, 11 de setembro de 2009.

Correio do Norte

Quem lê, sabe.