sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Para os mestres, mais que maçãs

Educadores falam sobre a profissão, que comemorou seu dia ontem

Gracieli Polak
CANOINHAS

Com os olhos altivos e um sorriso largo no rosto infantil, a estudante Claris Sampaio revela satisfeita o que quer ser quando crescer: professora, ou mais que isso. “Quero ser uma boa professora”, conta. O motivo para uma decisão tão firme já aos nove anos de idade? Os bons exemplos que teve.
Instituído por decreto federal em 1963, o Dia do Professor, 15 de outubro, bem poderia ser chamado de dia do exemplo ou dia do reconhecimento pelo trabalho prestado. Mas, ao invés de maçãs ou mimos, a recompensa esperada pelos queridos mestres é a aprendizagem de seus alunos, seja na alfabetização ou em qualquer outra etapa de suas vidas. Segundo o Ministério da Educação, o Brasil tem aproximadamente 3,5 milhões de professores. Em Santa Catarina, eles são mais de 65 mil e, com certeza, mais de um deles vêm à memória quando você lembra-se da época escolar. Para homenagear cada um destes educadores, o CN conversou com alguns profissionais com personalidades distintas, mas com uma característica comum, a paixão pelo ato de ensinar.

ATENÇÃO PARA OS PEQUENINOS
Voz calma, sorriso doce e a típica imagem da tia se revelam em Marciane Komochena, que desde criança sonhava em ser professora. Quando pequena, nas brincadeiras com os irmãos, era ela quem comandava a escolinha. A segunda dos oito filhos do pai que queria a filha professora, Marciane riscou suas primeiras lições com pedaços de carvão em tábuas e, alfabetizando os irmãos menores, descobriu que queria aquilo para sua vida, não somente para agradar ao pai. Correndo atrás do sonho, foi fazer Magistério. Logo, estava na sala de aula, entre os pequenininhos. “Me encanta poder acompanhar o início do aprendizado, o despertar do conhecimento, a maneira da criança pensar. É gratificante”, explica.
Para ela a escola é o prolongamento de sua casa e a relação construída com as crianças, familiar. Com quase vinte anos de experiência com a educação, a professora descobriu que sua vocação era, mesmo, ensinar os pequenos. “As crianças são honestas com a gente. Nessa fase eles não têm malícia, são verdadeiras em tudo”, ressalta. Muito tímida na adolescência, ela explica que perdeu a inibição de falar em público justamente por causa do contato com os alunos. Aprendeu com eles, ensinando. “A troca e o aprendizado diário fazem o trabalho valer a pena. Essa humanidade do nosso trabalho é o que mais encanta”, afirma.

DESAFIOS
Passada a fase dos primeiros aprendizados, os alunos crescem, a escola muda. Nesta escola movimentada com a agitação da adolescência, Ângela Maria S. da Silveira e Maria de Lourdes Maieski se encontraram na profissão. Por opção, as duas professoras lecionam Língua Portuguesa para alunos mais velhos e, com muitos anos de estrada pelo magistério, se reinventam para que cada nova turma tenha pleno aprendizado.“A geração de 10, 15 anos atrás era muito diferente da de hoje. Muita coisa mudou e para que se consiga atenção durante as aulas, é preciso estar atento às mudanças”, diz Ângela.
A professora, que se esforça para se tornar amiga dos alunos, no entanto, vê na modernidade o grande desafio da profissão, mas um desafio que só motiva a inovação. “Eu gosto de alterar a forma como passo um conteúdo, propor mudanças nas formas de avaliação, sempre dialogando com a tecnologia, que hoje faz parte da vida deles”, explica. Com 32 anos de trabalho, o conteúdo aplicado para os alunos também não é mais novidade para Maria de Lourdes, mas o mesmo não se pode dizer da forma de aplicá-los, tanto quanto os alunos. “Cada ano que se inicia também é uma novidade pra gente”, diz.
Do relacionamento com centenas de estudantes todo ano, dizem as professoras, sobra o reconhecimento. “É gratificante ver a evolução dos alunos. O aprendizado, o amadurecimento de cada um deles é uma vitória que faz valer algumas situações críticas”, avalia Ângela. “Muitos vão para a faculdade, crescem profissionalmente e, quando nos encontram na rua, vem cumprimentar. A gente não perde o rótulo de professora, mesmo depois de anos”, ressalta Maria de Lourdes.
Sem perder o título carinhoso, agora as professoras convivem com colegas que antes eram alunos. Situação estranha? Não, gratificante.

NOVA GERAÇÃO
Ativo, impaciente e empolgado, Cesar Daniel Damaceno Júnior, o professor Júnior, é um exemplo do fôlego que a profissão tem tomado nos últimos anos. Natural de Porto União, Júnior começou a lecionar durante a faculdade de Letras, mas não imaginava tamanha paixão pela profissão que exerce há quase sete anos. “Eu queria muito fazer Jornalismo, mas não consegui passar no vestibular e, por aptidão, optei por Letras. Agora eu tenho certeza que acertei na escolha”, diz.
Das aulas na faculdade para o posto de mestre, pouco tempo e muito empenho. Junior foi chamado para assumir uma disciplina em uma escola em São Pascoal, interior de Irineópolis. Resolveu enfrentar o desafio de frente e, diante de sua primeira turma, teve a prova de que deveria ser mesmo professor. “Quando eu coloquei os pés na sala de aula e senti toda a receptividade dos alunos, tive a certeza de que nasci pra fazer aquilo”, conta.
O acolhimento da comunidade escolar e da própria comunidade de São Pascoal, segundo o professor, foi imprescindível para que seu trabalho fosse realizado. Juntando sua velha paixão pelo jornalismo, Júnior desenvolveu um projeto específico para seus alunos, relacionando diversas formas de textos e gêneros. E este foi só um deles. Hoje já pós-graduado, a preparação para fazer a diferença dentro de sala de aula continua. Entre as aulas, projetos e duas novas pós-graduações, ele diz que sobra tempo para ser amigo dos alunos. “Eu me sinto realizado na minha profissão ao ponto de poder dizer para outras pessoas que se elas querem, elas devem lecionar. O salário é um problema mínimo diante da recompensa que o reconhecimento deles proporciona”, ressalta.

RECONHECIMENTO
Antiga reivindicação da classe, o pagamento de um salário justo pela função é citado por toda classe como o maior dos fatores negativos, que inclui ainda o desrespeito dentro de sala de aula. Desde janeiro de 2009, um piso nacional vigora no País para a categoria e instituiu o valor de R$ 950 por 40 horas de trabalho semanal. Sendo base, o valor norteia o pagamento mínimo que pode ser feito, aumentando com a titulação.

Você acha o salário justo? Entre no nosso site e responda a enquete.

www.jornalcorreiodonorte.com.br.

Matéria veiculda hoje, 16 de outubro de 2009.

Quem paga a conta?

"Mais uma vez, o Código. Não, desavisados, não é o Còdigo da Vinci. Este promete ainda dar mais assunto que o famoso livro daqueles que não curtem boa literatura".

Com prazo perto do fim, agricultores esperam por definição
A menos de dois meses da data limite para averbação da reserva legal poucos legalizaram área

Gracieli Polak
CANOINHAS

Cercada e preparada para o plantio, uma área agricultável na propriedade da família Lima, no Salto d’Água Verde, espera pacientemente que o mato tome conta e a transforme, novamente, em floresta. No temor de que terras usadas para agricultura tenham o mesmo destino que esta área, esperar é a palavra de ordem para os agricultores da região, a menos de dois meses do último prazo fixado pelo Ministério do Meio Ambiente para averbação da reserva legal.
Até 11 de dezembro todas as propriedades rurais devem registrar as áreas destinadas à reserva, que em algumas regiões, como a Amazônica, chega aos 80%, mas no caso de Santa Catarina está fixada em 20%. Separada das demais áreas usadas para agricultura, a reserva precisa ser fechada e livre de interferências externas, como a presença de gado. Exigida pela Lei, a medida traz preocupações para agricultores que aguardam pela aprovação do Código Ambiental de Santa Catarina, que entre outras medidas, propõe a incorporação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) na reserva legal.
Para a agricultora Hilda Roesleir, que hoje aposentada apenas arrenda suas terras para que outros as cultivem, a averbação das áreas traz problemas não só para ela, mas para maioria dos pequenos produtores da região. “Muita gente não vai ter onde plantar. Quem tem terreno cortado por algum veio d’água simplesmente vai ter de parar de produzir”, lamenta Hilda. A preocupação da agricultora, dizem as entidades de classe, é fundamentada. Somente em Santa Catarina, 30 mil propriedades produtivas desaparecem se tiverem de se adequar às normas propostas no Código Florestal Brasileiro para averbação da reserva legal, segundo a Faesc.
Preocupante, a situação criou um embate histórico entre ruralistas e ambientalistas no País. No centro da disputa, a preservação de uma área que para alguns agricultores é, simplesmente, o lugar de onde tiram seu sustento, a mesma que para ambientalistas significa a conservação dos mananciais e do meio ambiente. Na espera pela decisão final sobre a Lei que vai reger o Estado, a decisão dos agricultores que ainda não legalizaram sua área de preservação é pela espera. Osnildo de Lima, que teve de averbar e perder uma área de plantio espera por uma decisão para registrar o restante da propriedade. “Não dá para arriscar fazer agora e depois perder. O jeito é torcer para que seja aprovada a melhor solução”, reclama.

FATMA ESPERA
Segundo o gerente da Fundação do Meio Ambiente (Fatma) de Canoinhas, Silmar Golanovski, a sensação de dúvida existente nos setores agrícolas em relação à adequação à Lei também existe no órgão, um dos responsáveis pela fiscalização ambiental. Além da Fatma, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Polícia Ambiental, fiscalizarão o cumprimento da norma, mas, no Estado, permanece o impasse. “As leis são feitas em Brasília ou em Florianópolis e tudo isso vem para a Fatma. Nós não fazemos as leis, não determinamos o que facilita ou o que complica a vida do agricultor, somente as aplicamos”, defendeu Golanovski. O gerente admite que haja ainda um impasse em relação ao Código, mas que, justamente por ter de fazer com que as normas sejam cumpridas no Estado, torce para que a situação seja abrandada. “É necessário preservar, mas é não é só o agricultor que deve pagar por isso. Todo mundo precisa fazer um pouco”, citando outro artigo polêmico do Código estadual. Pelo texto, o agricultor que preservar mais do que a área exigida pela Lei, deverá receber para manter mata intacta. “Todos devem pagar a conta, não somente os agricultores”, defende.

MAIS TEMPO
Prorrogado em dezembro do ano passado, o prazo definitivo, até o momento, para a legalização das áreas de preservação acaba em 11 de dezembro. A partir da data, os agricultores estarão sujeitos a autuações e multas que podem variar de acordo com a área irregular, mas, como a legislação prevê, ainda terão 120 dias para se adequar, caso o prazo não seja prorrogado novamente, situação não descartada pelo Ministério do Meio Ambiente.

Matéria veiculada hoje, 16 de outubro de 2009.