Os ares não são mesmos e as vontades também mudaram. Mas, entre o caminho de lá e cá alguma coisa há de ter sido salva.
Em Guarapuava, poucas histórias por enquanto me chamaram a atenção. Essa foi uma delas.
Em situação de miséria, mãe pede ajuda para filho deficiente
Os dois vivem no bairro Conradinho, em casa danificada pelo tempo e suscetível às chuvas; local não tem rede de esgoto nem mínimas condições de higiene
Em meio às melhorias na qualidade de vida da população brasileira e também da guarapuavana nos últimos anos, situações como as verificadas pela reportagem do Diário, na periferia da cidade, nesta semana, revelam que para algumas famílias a veia da miséria ainda está aberta, bem perto de todos.
Em uma rua de chão batido do bairro Conradinho, numa casa de dois cômodos mais uma varanda, bastante danificada, mora a ex-catadora de recicláveis Elísia do Carmo Mendes dos Santos, 59 anos, com o filho Pedro Gelson dos Santos, 22 anos. A casa de madeira, deteriorada pelo tempo, está com algumas tábuas podres e falhas no telhado, que formam muitas goteiras, mas esse não é o maior problema.
Pedro nasceu com algumas deformações pelo corpo, lábio leporino e, segundo a mãe, teve ainda paralisia infantil e meningite nos primeiros dias de vida. Não fala e não anda, nem responde a estímulos externos. Por isso, depende exclusivamente dos cuidados da mãe para tudo, seja para controlar as crises epilépticas, seja para se alimentar ou se higienizar.
Analfabeta, Elísia disse que quando o filho era pequeno, fazia cópia de músicas para conseguir arrecadar um pouco de dinheiro. Com o passar dos anos, virou catadora, mas há alguns meses deixou de trabalhar exclusivamente para cuidar do filho, que ficava sozinho em casa enquanto ela saía para o trabalho. Desde então, os dois sobrevivem da pensão por invalidez de Pedro, que segundo ela, não chega para cobrir os gastos básicos com alimentação, higiene e saúde. Para ajudar, um irmão comprou alguns produtos e uma vendinha foi improvisada na varanda, para as pessoas do bairro. “As pessoas sabem da situação do Pedro e ajudam. Vem aqui, tomam um refrigerante para ajudar”, contou a catadora.
Por dia, segundo ela, o dinheiro dá para comprar duas fraldas geriátricas. “Não tenho condição de comprar mais. A gente faz o que pode, mas ele é um rapaz, isso não chega”, contou. Na casa de dois cômodos, que não possui banheiro, Elísia dá banho no filho em duas bacias. “É como se fosse um bebê. A mesma coisa, só que muito maior”, relatou. Com o filho quase da mesma altura, ela enfrenta dificuldades para carregá-lo por entre a casa pequena e as saídas de casa do rapaz são somente para atendimentos médicos.
Os remédios de uso contínuo do rapaz, segundo ela, são cinco, mas nem sempre estão disponíveis no posto de saúde. “A gente não pode deixar faltar. Tem de comprar. Faço tudo pra dar saúde pra ele, mas não consigo”, afirmou. Com a comida, faz a mesma coisa. “Ele não come qualquer coisa, então tenho de dar um jeito”, contou.
O caso de Pedro e Elísia choca, tanto que o socorrista João Augusto Kurchaidt, que junto com amigos distribui cestas básicas aleatoriamente no Natal. Uma das cestas foi dada a Elísia, mas João não conseguiu esquecer a situação em que os dois vivem. “A mãe clamou por uma ajuda para o filho deficiente. Só vendo para sentir as condições de vida desses dois”, relatou. “Quando chove eles precisam ficar sob um plástico para que não se molhem. A casa está repleta de goteiras”, pontuou.
Chuvas perigosas
A casa em que Pedro e Elísia moram não pertence aos dois. É, segundo a catadora, de uma neta que mora em Curitiba. No mesmo terreno, uma casa abandonada serve de depósito para o lixo acumulado. Essa casa, feita com placas pré-moldadas pertence aos dois, mas está em condições péssimas de conservação.
Sem piso, com as placas soltas, a madeira apodrecida e com risco de desabamento no teto, não oferece condições mínimas de segurança. Para melhorar a situação, somente reformando todo o telhado. Além das infiltrações fora de casa, outro perigo. Em frente à casa passa uma valeta com os os dejetos das casas da vizinhança, espalhando mal cheiro. Nas outras residências o esgoto é encanado, mas na frente da casa 45, corre abertamente, alimentando a ocorrência de mais doenças. “Eu não tinha direito pra pagar os tubos, por isso não tem aqui. A senhora viu como cheira mal?”, questionou.
Sem expectativa de melhora nas condições, Elísia pede apenas uma coisa. “Que Deus não me tire ele. Mãe sofre, mas não liga. Tudo que eu quero é que ele não sofra tanto”, relatou.
---------------------------------------------------------------------------------
Teve vontade de ajudar? Muitas pessoas tiveram o mesmo ímpeto e, uma semana depois, a vida de Elísia e Pedro começa a mudar.
Poxa!
Há 11 meses